São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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REPERCUSSÃO

Bruno Barreto, cineasta - Estou muito triste, fiquei arrasado. Conversei com ele há três meses, a gente tinha planos de fazer um novo filme, baseado em uma história do Vargas Llosa com a Amy (Irving) e ele. Sem dúvida o Mastroianni foi um dos maiores atores com quem trabalhei e um dos maiores do mundo. E isso sem se levar a sério, sem ser empostado e sempre com muito humor, até nos papéis mais trágicos."

Ruy Guerra, cineasta - "Marcello Mastroianni foi um grande ator, um grande comediante. Ele foi um marco na história do cinema. Sua morte me entristece."

Norma Bengel, cineasta e atriz - "Foi uma péssima notícia. Para mim os dois maiores atores do mundo são Marcello e Marlon Brando. Acho que sua morte é uma perda para nós. Ele era um homem exclusivamente de cinema. Convivi com ele durante o tempo que morei na Itália, ele era meu amigo, tinha muita paixão. Uma vez ele me contou uma história linda e engraçada. Logo depois de 'Divórcio à Italiana', Hollywood estava fazendo a corte a Mastroianni. Ele disse: 'Não posso aceitar. Eu não falo inglês. Só se eles me oferecessem um papel de xerife mudo'. É o máximo da fantasia querer interpretar um xerife mudo, não? Ele era uma pessoa simples. A última vez que o vi foi em Londres, nos anos 70. Adorava automóveis, espaguete, era um ser humano privilegiado pelos deuses gregos. Adoro todos os filmes com ele. 'Ginger e Fred' é lindo. Ele não dava um fora, não há um filme ruim. Talvez não tenha dado sorte em 'Gabriela', não deveria ter aceitado esse papel. Sei que ele fez comentários de que não tinha gostado, tinha implicado com o feijão preto. Isso é típico de quem não está gostando de filmar, não pode falar mal do filme, fala mal do feijão. Eu tinha um pressentimento. Quando o Fellini morreu, foi embora a Giulietta, e achei que o Marcello também ia."

Jorge Amado, escritor - "Conheci Marcello Mastroianni na Itália, antes de ele filmar 'Gabriela'. Conheci e estimei bastante. Era uma pessoa de grandes qualidades, com a qual convivi prazerosamente em Paris. Vivemos no mesmo hotel. Uma convivência agradabilíssima, creio que tanto para ele que quanto para mim."
Carlos Reichenbach, cineasta - "O cinema perde um profissional extraordinário. Bruno Barreto disse certa vez que Mastroianni foi o melhor profissional com quem ele já havia trabalhado. Ele tinha a bela característica de ser um ator europeu por excelência, mais do que ser um ator italiano. Trabalhou com diretores de várias tendências e nunca ambicionou ser um profissional de Hollywood. Mastroianni era a cara do cinema que fazia. Antes do grande ator que era, ele foi alter ego de Federico Fellini e Theo Angelopoulus. O filme 'Oito e Meio' foi um marco em sua carreira e na história do cinema. Esta é uma excelente oportunidade para lançar em circuito imediatamente no Brasil seus últimos filmes: 'O Passo Suspenso da Cegonha', 'Três Vidas e Uma Só Morte' e 'A Festa', que só foram exibidos em mostras de cinema.

Zélia Gattai, escritora - "Vimos Mastroianni ocasionalmente na Itália. Passamos a encontrar mais com ele no hotel L'Abbaye, onde nos hospedávamos em Paris antes de comprarmos nosso apartamento lá. Passávamos longas temporadas no hotel, que também abrigava o Mastroianni. Ele dizia que era confortável porque o hotel era próximo da casa da filha (Chiara Mastroianni), que morava com a mãe (a atriz francesa Catherine Deneuve). Fomos almoçar juntos algumas vezes no La Grillade, com Mastroianni e a filha. Também nos encontramos no Brasil, em Parati, quando ele veio filmar 'Gabriela'. Me lembro de uma história engraçada. Ele veio sem permissão para trabalhar, com um visto de turista, e teve que ir para o Paraguai tirar outro visto. Na mesma época a Sophia Loren foi presa por problemas com o fisco. Ela tinha voltado à Itália para filmar 'Tieta' com a Lina Wertmüller, que acabou não sendo feito. O Mastroianni soube e nos contou que passou um telegrama para ela com um texto dizendo: 'Está vendo nossa carreira de atores? Você na cadeia, e eu no Paraguai'."

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