São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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Peru começa a negociar com guerrilha

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

O governo peruano e os guerrilheiros que ocupam a residência oficial do embaixador do Japão no país começaram ontem a negociar os termos da libertação das cerca de 380 pessoas que foram feitas prisioneiras na terça-feira à noite.
Logo pela manhã, o presidente do Peru, Alberto Fujimori, se reuniu com o presidente do Conselho de Ministros, Alberto Pandolfi, o ministro do Interior e o ministro da Educação, Domingo Palermo. Michel Mining, da Cruz Vermelha, foi nomeado negociador oficial do governo com os guerrilheiros.
Os integrantes do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) exigem a libertação de todos os seus integrantes.
O movimento é de inspiração cubana. O governo de Havana, que tem seu embaixador em Lima como refém, foi o único a não condenar claramente o sequestro.
O Conselho de Segurança da ONU emitiu um comunicado condenando a tomada de reféns e exigindo sua imediata libertação.
O governo do Equador se ofereceu para receber temporariamente os sequestradores, caso haja acordo com as autoridades peruanas.
As negociações com os guerrilheiros são feitas por intermédio de uma comissão formada pelo embaixador do Canadá, Anthony Vincent, o embaixador da Alemanha, Heribert Woeckel, o embaixador da Grécia, Alcibiadis Karokis, e um adido cultural francês.
Ontem à tarde, a comissão se reuniu com o ministro da Educação. Antes do encontro, o embaixador do Canadá divulgou um comunicado no qual relatou a visita que havia feito pela manhã à casa onde estão os guerrilheiros.
Segundo a nota do embaixador, os sequestrados se encontravam bem e a situação era calma.
"O papel da comissão é trabalhar para o bem-estar e segurança dos reféns e atuar como uma ponte para as conversas mantidas entre a residência do Japão e as autoridades locais", disse em nota.
Ontem, o jornal "La República" afirmou, sem citar fonte, que o presidente Fujimori estaria analisando a possibilidade de libertar 40 integrantes do MRTA, desde que nenhum deles esteja envolvido em homicídios, em troca de pelo menos parte dos sequestrados, muitos deles embaixadores, incluindo o do Brasil em Lima.
A Cruz Vermelha foi autorizada a entrar na casa ontem com água, alimentos, remédios e produtos de higiene. No início da tarde, a entidade informou que havia 380 pessoas sequestradas.
Com a ajuda de bombeiros, os suprimentos foram levados para dentro da casa durante quase três horas. Eles tinham de ser revistados pelos policiais na rua e, depois, pelos guerrilheiros.
Três pessoas da Cruz Vermelha entraram na casa, entre elas Gian-Duri Grouss. Ele disse à Folha que a situação estava calma e que os sequestrados estavam bem.
Tiros
Depois de um dia de calma, dois tiros foram ouvidos de dentro da residência do embaixador japonês. Os disparos foram efetuados às 16h30 (19h30 no Brasil).
Não se sabia porque os tiros foram dados nem se há feridos.
À tarde, a energia elétrica da região onde fica a embaixada foi cortada. Telefones celulares também não funcionam nessa área.
A versão de que os guerrilheiros entraram na casa disfarçados de garçons foi contestada ontem (leia à pág. 14). Todas as informações levam a crer que eles alugaram uma casa.

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