São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Vence hoje ultimato dos guerrilheiros

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Na primeira declaração oficial sobre a crise dos reféns, o governo peruano manifestou ontem a intenção de resolver pacificamente a situação das quase 400 pessoas que estão em poder de guerrilheiros na residência oficial do embaixador do Japão.
A declaração foi feita no início da tarde de ontem pelo chefe do Conselho de Ministros do Peru, Alberto Pandolfi.
Os terroristas deram um ultimato até hoje para que o governo atenda suas exigências. A principal delas é a libertação de todos os membros do MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) que estão encarcerados.
A casa foi invadida na terça-feira por guerrilheiros do MRTA.
Durante todo o dia de ontem continuaram as reuniões em busca de uma solução para o caso.
O presidente Alberto Fujimori se encontrou pela manhã com Pandolfi e o ministro da Educação, Domingo Palermo, que representa o governo nas negociações.
Fujimori apareceu pela primeira vez em público desde o início da crise anteontem à noite, quando recebeu o chanceler do Japão, Yukihiro Ikeda.
Aparentemente, não houve acordo no encontro. Um porta-voz do governo de Tóquio disse que há uma grande diferença entre as posições dos dois governos.
A imprensa peruana recebeu um comunicado atribuído ao governo afirmando que as exigências dos sequestradores não serão atendidas. As informações do documento não foram desmentidas ou confirmadas oficialmente.
O embaixador canadense no Peru, Anthony Vincent, também manteve uma série de reuniões durante o dia. Ele é um dos responsáveis por intermediar as negociações entre o governo e o grupo guerrilheiro.
Vincent se encontrou com o chanceler japonês e com o ministro da Educação.
Líder
Dependendo do andamento das negociações, o embaixador canadense poderá ter uma reunião com o principal líder do MRTA, Víctor Polay, que está preso.
Assessores da Embaixada do Canadá disseram à Folha que o encontro com Polay foi sugerido pelos guerrilheiros que mantêm cerca de 400 pessoas como reféns.
Os assessores acrescentaram que a reunião só ocorrerá se todos os envolvidos no processo de negociação a considerarem apropriada.
O chefe da Cruz Vermelha no Peru, Michael Minnig, também manteve uma série de contatos durante o dia. Pela manhã, ele esteve com o chanceler japonês e, à tarde, encontrou-se com os guerrilheiros.
Minnig afirmou à Folha que não é um "negociador" e sim um "facilitador" das conversas entre as duas partes.
Outro funcionário da Cruz Vermelha disse que a situação no interior da casa, que está superlotada, é precária. Vários reféns estão doentes. As autoridades peruanas cortaram o fornecimento de energia elétrica, água e as linhas telefônicas da residência.
Hospitais da capital peruana também montaram um esquema especial para receber os reféns.
O governo peruano tem evitado fazer comentários oficiais sobre as exigências dos guerrilheiros. Até ontem, o presidente Fujimori não havia apresentado qualquer contraproposta.
Fujimori tem mantido silêncio absoluto sobre as negociações. Em todas as manifestações oficiais de seu governo, os termos são genéricos e não há indicações de como as conversas serão conduzidas.
Reféns
Entre os reféns, há 20 embaixadores de países estrangeiros, segundo informações da Cruz Vermelha. Entre eles está o embaixador do Brasil em Lima, Carlos Coutinho Perez. Há ainda uma série de integrantes do governo, como os ministros da Agricultura, Rodolfo Muñante, e das Relações Exteriores, Francisco Tudela.
Parlamentares e o presidente da Corte Suprema do Peru, Moises Pantoja Rudolfo, também estão entre os sequestrados.
A residência do embaixador do Japão, Morihisa Aoki, foi ocupada por guerrilheiros durante a festa de comemoração do aniversário do imperador Akihito.
Integrantes do MRTA alugaram uma casa que fica atrás da residência do embaixador. Na terça-feira, explodiram o muro da residência oficial e dominaram os reféns, depois da explosão de outras bombas e de um intenso tiroteio com policiais que estavam do lado de fora.
Toda a operação foi feita por uma grupo de 15 a 20 guerrilheiros.

LEIA MAIS sobre a crise de reféns no Peru às páginas 11 e 12

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