São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Os primos voadores dos dinossauros

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando na Terra dominavam os dinossauros, há uns 200 milhões de anos, nos ares dominavam os seus primos, pterossauros, que nasceram e morreram mais ou menos na mesma época e provinham de bifurcação em tronco original comum. Descobertos no século 18, esses fósseis foram tomados por morcegos ou animais marinhos, e só depois se descobriu que eram répteis voadores.
Muito se tem especulado a seu respeito, porém o que se sabe de positivo é relativamente pouco. Para discutir alguns pontos obscuros, os especialistas se reuniram no encontro anual da Society of Vertebrate Paleontology em fins de novembro no ano passado. E havia muito o que debater.
O tamanho ia desde o de um passarinho até o de gigantes de mais de seis metros de comprimento, como o Quetzalcoatlus, do porte de um avião médio. Não tinham penas, mas exibiam cobertura de material parecido com couro fino.
As espécies mais primitivas tinham pescoço e cabeça compridos, às vezes ornada a cabeça com cristas e outros vistosos apêndices, que, em muitos casos, deviam ser atrativos sexuais. Umas espécies possuíam dentes, outras -inclusive o Quetzalcoatlus- eram desdentados, enquanto outros mostravam dentes próprios para mastigar insetos, e ainda outros possuíam dentes finos e enfileirados, formando um coador que ajudava a caçar o plâncton.
Algumas espécies tinham bico de forma e tamanho diferentes. O Quetzalcoatlus o possuía enorme e grosso na base, afinando na ponta, onde assumia o aspecto de pauzinhos de comer dos chineses. Alguns tinham bico em forma de colher.
As espécies mais primitivas ostentavam cauda móvel, que devia funcionar como estabilizador aerodinâmico, enquanto as mais modernas não a apresentavam: possuíam apenas cauda rente.
Como andavam eles? Para alguns cientistas eram bípedes, para outros andavam de quatro como os morcegos. Certos pesquisadores acham que eles tinham andar semi-ereto, asas dobradas para dentro, deixando aparecer as garras dianteiras, que encostavam no solo.
Uma das características desses fósseis eram as mãos com garras, sendo um dos dedos particularmente comprido.
Quanto à comida, acredita-se que certas espécies viviam de carniça, o que é contestado por outros especialistas, que preferem nutri-los de animais marinhos ou lacustres, que pescavam no fundo das lagoas.
Um dos mais discutidos problemas é o de como os pterossauros conseguiam levantar vôo ou pousar.
Alguns acham que eles tomavam impulso depois de uma corrida, outros imaginam que eles se lançavam de alguma altura, como copa de árvores e rochedos.
É oportuno lembrar que, como os das aves atuais, os ossos eram ocos e leves. Esses debates continuarão por muito tempo, dada a falta de material de observação. O que não for observado agora nunca mais o será, porque esses fósseis são fim de linha, isto é, se extinguiram sem deixar descendentes com eles parecidos.

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