São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Jingle Bells

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o aviãozinho atravessava a televisão ao som de "Estrela brasileira no céu azul...", todo mundo corria para a sala para montar a árvore, o presépio, colocar a guirlanda na porta, as velas em forma de anjinho pelas mesinhas de canto, e fazer suas listas para Papai Noel, que chegaria voando a jato pelo céu.
Chegou o Natal.
Durante toda a minha infância acreditei que Papai Noel morava no Alasca. Hoje já sei a verdade: ele mora na Islândia.
Também acreditava que as pessoas que apareciam na TV na noite de Natal eram tão onipresentes como o bom velhinho. Isso se tornou óbvio para mim quando meu pai me explicou que todo mundo via aquelas imagens ao mesmo tempo. Assim como todas as crianças viam Papai Noel ao mesmo tempo, entre o primeiro pedaço de panetone e a última garfada no tender.
Hoje em dia, com os avanços técnicos, quase todos podem planejar sua ceia natalina ao lado da família.
Quase todos, porque uma boa parcela do pessoal técnico tem de ficar nas emissoras para colocar no ar os especiais de fim-de-ano, os filmes durante a madrugada, as transmissões religiosas e os muitos comerciais de produtos da época.
Para eles, é uma noite como outra qualquer, de trabalho. Só por esse sacrifício, deveriam esses técnicos mostrar a cara nas mensagens de boas-festas de suas emissoras.
No começo da televisão, a coisa era pior, porque não só os técnicos, mas também os atores, apresentadores, músicos e cantores, tinham de ficar na TV até a última castanha.
Ajudar os carentes era uma tradição que já havia no rádio, quando atrizes como Lia de Aguiar preparavam pacotes e mais pacotes com todo tipo de coisas para dar aos mais necessitados.
A coisa continuou na TV. Márcia Real, entre um "TV de Comédia" e um "Clube dos Artistas", corria para lá e para cá para embrulhar presentes e mantimentos, voltando em seguida ao estúdio para continuar o programa.
Nenhuma das duas, no entanto, teve de sacrificar sua ceia de Natal por causa do trabalho. Ao contrário de Lilian Fernandes. Intimada a passar o Natal com a família, em São Paulo, saiu direto do estúdio da TV Excelsior para o aeroporto Santos Dumont, no Rio, para pegar ao chamado "corujão", às 11h da noite, em plena véspera de Natal.
Sacolejou no pequeno aparelho praticamente sozinha, ainda maquiada e vestida com sua roupa de cena para não perder a quebração de nozes.
Minha lembrança mais antiga de Natal fica também por conta da televisão.
Estávamos ansiosos com a chegada de Papai Noel, quando meu irmão chamou minha atenção para alguma coisa que passava na TV naquele momento. Não acho que deva ter ficado mais do que cinco minutos olhando para a tela, mas quando voltei para a sala lá estavam todos os nossos presentes.
Até hoje não sei como tudo pode ter sido colocado ali tão rápido. Talvez Papai Noel não morasse tão longe.

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