São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Atraso compromete 'O Rei do Gado'

CRISTINA RIGITANO
DA SUCURSAL DO RIO

Produtores e atores da novela "Rei do Gado" estão cansados da rotina do serão. O atraso na entrega de capítulos está obrigando funcionários da Rede Globo a trabalharem além do expediente normal para levar a trama ao ar.
"A gente recebe tudo em cima da hora, o que provoca um desgaste maior. Trabalhamos em dobro e não temos horário para sair. Quase todo dia saímos tarde", contou uma integrante da produção, que pediu para não ser identificada.
Os atrasos estão provocando crises conjugais. Os parentes dos atores ficam preocupados com os atrasos e maridos até desconfiam do serão.
"Essa novela está uma brincadeira. Está muito atrasada. A Glória chega em casa tarde, às nove, dez horas da noite. Hoje, ela saiu às 9h30 e deve voltar mais tarde ainda, porque estava com gripe e ficou uma semana sem gravar", disse o cantor Orlando Moraes, marido da atriz Glória Pires.
A novela está se mantendo com cerca de sete capítulos gravados. Já foi pior. Segundo a direção da emissora, já aconteceu de o elenco gravar cenas que iriam ao ar nos capítulos daquela semana e até do capítulo de um dia ter cenas gravadas na véspera.
Os sete capítulos de reserva não aliviam a situação. A produção teme que, com as festas de fim-de-ano, a novela se complique. Para que as folgas não acarretem atrasos ainda maiores, a produção decidiu trabalhar aos domingos.
As novelas da Globo começam com seis semanas de frente, o que equivale a 18 capítulos gravados. Para manter essa média, o autor deve entregar seis capítulos por semana e o elenco gravar pelo menos um capítulo por dia.
"Se o autor atrasa, é difícil recuperar, porque ele terá de escrever dois capítulos por dia e não é fácil. Os capítulos variam entre 30 e 40", disse o funcionário da produção.
Os atrasos foram o assunto de uma reunião em São Paulo entre o autor da novela, Benedito Ruy Barbosa, e o vice-presidente de Operações da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.
O autor disse ao patrão que estava sobrecarregado de trabalho e se sentia cansado, com dores na coluna. Mesmo assim, não aceitou a colaboração de outros autores. O autor prefere ficar estressado e fumar quatro maços de cigarros por dia a permitir que alguém interfira na sua trama.
Para tentar tirar o atraso, o autor está recebendo ajuda das filhas Edimara e Edilene Barbosa de Bernardo. Mas ele não admite que elas escrevam capítulos. A Folha apurou que o trabalho das filhas se resume a colher informações.

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