São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Esquema vende mais potência para FMs
ELVIRA LOBATO
O intermediário não faz parte do ministério, mas sugere ter contatos fortes lá dentro. A fita foi gravada há duas semanas, quando a Folha começava a investigação sobre a venda de concessões de rádio, revelada na última sexta-feira. Temendo represálias, o empresário pediu para que seu nome e o dos envolvidos fossem mantidos em sigilo. Mas liberou os principais trechos da conversa. Na fita gravada, que está em poder da Folha, o intermediário diz que poderia conseguir por R$ 30 mil o aumento de potência da rádio que ele vem pleiteando. "O pessoal quer R$ 30 mil para dar aumento de potência. Eu mando para você um fax com o documento assinado. Depois que você pagar, eles publicam no 'Diário Oficial"', diz o interlocutor. O empresário simula estar interessado no negócio, mas alega que o preço é muito alto. O intermediário sugere que ele faça uma oferta, mas, antes mesmo de obter resposta, propõe baixar para R$ 20 mil e pressiona por uma decisão. "Em R$ 20 mil está fechado já, ou não?", pergunta o intermediário. O empresário, que fez a ligação para demonstrar o esquema, pede garantias de que o pedido seria atendido. O interlocutor repete que ele receberia um fax do documento assinado, mas adverte que a autorização só seria publicada no "Diário Oficial" depois que o dinheiro fosse depositado na conta de um advogado de Brasília, a ser indicada posteriormente. O empresário diz que já está cansado das idas e vindas de seu processo. O interlocutor ri e acrescenta: "Ali só funciona com grana". Esquemas A fita gravada pelo empresário revela ainda que há mais de um esquema em ação para a venda de concessões de rádios FM. Esse mesmo intermediário, que negocia a liberação de aumento de potência para rádios, também atua no mercado negro de concessões. Na última sexta-feira, a Folha revelou o esquema, centralizado em Brasília por Naura Beatriz Severo, assessora do deputado João Iensen (PPB-PR). Ela cobra R$ 50 mil -metade adiantada e em dinheiro-, por concessão de rádio, para "garantir" a vitória nas concorrências públicas que serão abertas pelo governo no mês que vem. Beatriz assina contrato de prestação de serviços, onde assegura a devolução do dinheiro, caso não obtenha a concessão prometida. No esquema mostrado pelo empresário, o preço é três vezes maior do que o cobrado por Beatriz (R$ 150 mil) e não há promessa de devolução de dinheiro. O empresário, que havia sido abordado antes sobre o assunto, pergunta como estão as concessões: "Correndo a todo vapor". O empresário conta que havia sido procurado por uma pessoa do esquema de Beatriz, que cobrava R$ 50 mil pelo mesmo serviço e dava um contrato de garantia. O intermediário se espanta com a informação e diz: "Tem três grupos trabalhando para o mesmo cara no ministério, e estou achando esquisito você me falar de um nome que não faz parte do esquema". Assustado, sugere um recuo: "Pelo amor de Deus, vamos parar então. Vamos dar um tempo, esquecer que a gente tem um esquema. Vamos honrar o que a gente prometeu e parar o restante". O empresário insiste em saber sobre o grau de envolvimento do ministério com o esquema: "Eu sei em que nível está lá dentro. Eu, pessoalmente, estou tranquilo quanto ao negócio", responde. O empresário diz que o dinheiro pedido é alto e que seu sócio quer mais garantias. "O negócio é na base da confiança" é a resposta. "Meu sócio não entende de rádio", diz o empresário. "E de lobby, muito menos", conclui o intermediário. Texto Anterior: Ministro defende gastos com usinas nucleares Próximo Texto: Motta determina nova apuração Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |