São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Viagem é corrida de obstáculos e paciência

ARTHUR VERÍSSIMO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A viagem para Spiti é uma epopéia. Antes de entrar em um dos vôos semanais que as companhias aéreas operam para a Índia, é preciso tirar o visto ainda no Brasil.
Chegando a Nova Déli, logo depois de estar devidamente instalado em algum hotel, o melhor é ir a Middle Path Travels -Rohit House, 805, Tolstoty Marg-, agência de viagens de tibetanos. Eles providenciam a autorização para Spiti.
Depois, embarque num trem que faz em dez horas o trajeto até Pantankot. O bilhete na primeira classe custa US$ 24. A viagem é impecável, dos travesseiros ao serviço. A limpeza é absoluta.
Em Pantankot há serviço de táxi até Dharamsala (90 km). Demora duas horas e meia e custa US$ 15.
Dharamsala é a cidade onde está exilado Dalai Lama e todo o governo tibetano.
É bom ficar por ali por dois dias para aclimatação (1.800 metros), pois em Spiti a altitude é de 3.000 a 4.500 metros.
Para chegar a Tabo, há duas vias de acesso. A primeira é ir até Manali, atravessando o Rohtang Pass (3.980 metros) e o Kunzom Pass (4.830 metros). Mas essa rota quase sempre se encontra fechada.
A outra via de acesso é seguir até Simla e pegar a Hindustan-Tibetan Road, que está desbloqueada.
Até Simla são 310 km. De jipe, o trajeto é feito em sete horas, e de ônibus, em dez horas.
A viagem de Simla (2.205 metros) até Tabo é feita em dois dias.
Caleidoscópio
À medida que vamos subindo as encostas das montanhas e adentrando os contrafortes do Himalaia, a viagem é um caleidoscópio.
Vilarejos surgem a cada curva. Pequenos povoados com habitantes de fortes traços mongólicos oferecem boas-vindas.
Depois de passar por Narkanda, Kinga, Rampur, Jhakdi, Jeori, Sungra e Tapri -em trajeto que dura oito horas-, aparece o primeiro posto de controle.
Imediatamente, os militares checam os passaportes e o documento de permissão de entrada para a região de Spiti. Existem mais três postos de controle pelo caminho.
Após o primeiro posto de controle, a estrada torna-se perigosa.
Construída em 1962, na época da guerra Indo-Chinesa, a rodovia é uma obra impressionante da engenharia. Grande parte dela foi escavada nas paredes das montanhas.
Determinados trechos mais parecem uma espécie de túnel no qual falta uma parede. Curvas sucedem curvas, abismos sobrepõem-se a precipícios.
Depois de 12 horas de viagem, um vilarejo (Puh) é o local mais seguro para pernoitar.
O restante da viagem é um autêntico cenário lunar, a paisagem é de uma solidão absoluta, quilômetros a fio e nada de vegetação.
Acompanhando a estrada, segue o violento rio Spiti. Os matizes de cores das montanhas variam entre bronze, prata, ouro, roxo e um ou outro oásis microscópico de verde.
A nudez da natureza depilada é o cenário desse deserto montanhoso com cumes nevados.
Após seis horas de viagem, aparece enfim o vale de Spiti. Placas indicam o vilarejo de Tabo.
Centenas de barracas ao redor do mosteiro e milhares de pessoas. Essa é a primeira visão do que seria o Kalachackra -cerimônia do budismo tibetano.
(AV)

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