São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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São Paulo: ano 2000

PAULO ROBERTO FARIA LIMA

São Paulo chega ao último quadriênio do século com imensos desafios.
A cidade se agigantou de maneira desproporcional e não conseguiu preservar a dimensão humanizadora, que é a função social da metrópole.
Afinal, o ser humano deve ser o eixo fundamental da cidade, voltada a criar o ambiente social onde cada criatura humana tenha acesso aos bens da vida e possa usufruir das técnicas e dos serviços disponíveis.
Precisamos ampliar o debate sobre todos os problemas que nos afligem, buscar estreitar os contatos com aqueles que desejam sinceramente a promoção da justiça social, estar abertos a tudo e a todos, para extrair as melhores propostas que solucionem o cipoal de problemas que estão à nossa volta.
Não podemos nos paralisar e nos acomodar, achando que as coisas não podem ser mudadas. Elas podem, sim.
Basta vontade política de quem tem o dever e a responsabilidade de agir nesse sentido; basta também a disposição de todos nesse processo de renovação, de construção conjunta, de fé numa cidade mais humanizadora.
Não podemos chegar ao ano 2000 com crianças espalhadas pela cidade, convivendo com a droga, a fome, o frio, tendo o banditismo como sua única via para garantir a sobrevivência.
Não podemos chegar ao ano 2000 com milhões de famílias apinhadas em barracos de madeira frágeis, sem horizontes mínimos de futuro, porque os filhos não encontram emprego, os aluguéis estão cada vez mais caros, o dinheiro, curto, e a miséria, como uma sombra a nos perseguir a vida inteira.
Não podemos chegar ao ano 2000 com a nossa educação em frangalhos, o professor desmotivado e desvalorizado, as nossas crianças sem estímulo ao aprendizado, as escolas despojadas de recursos mínimos que as façam cumprir sua função social.
Não podemos chegar ao ano 2000 com os nossos idosos desamparados, jogados nos corredores escuros e frios dos hospitais públicos, sem condições de suprir as necessidades mínimas de atendimento e assistência médica, hospitais com falta de equipamentos, remédios e leitos.
Não podemos chegar ao ano 2000 com nossas praças sem árvores e flores, sem espaço público para lazer, sem espaços culturais adequados, sem segurança para os transeuntes.
Enfim, falta muita coisa para que São Paulo seja uma cidade mais humanizadora.
Mas, juntos, certamente poderemos torná-la melhor.

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