São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Ska é a aposta para o verão 97

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Vem chegando o verão/o calor no coração...", dizem os primeiros versos de "Uma Noite e 1/2", de Marina. Essa é só uma daquelas músicas que grudaram no ouvido de muita gente -independente do gosto musical- no verão de 1988.
Todo ano é assim. A canção pode não ser a campeã em vendas, já que o título, por muitos anos, esteve nas mãos de Roberto Carlos e depois Xuxa, mas quando toca no rádio (ou no CD player) todo mundo lembra das férias na praia e das noites de calor.
Uma pesquisa realizada a pedido da Coca-Cola, para sua campanha publicitária de verão, verificou quais ritmos entram em alta nesta virada de 96 para 97.
Os resultados são as toadas regionais e o que foi batizado de ska, na verdade um reggae mais rápido, dançante, meio misturado com rock, nada muito diferente do que faz a banda que mais vende no momento, o Skank. Na mesma categoria, pode-se enquadrar Cidade Negra e Paralamas do Sucesso.
Até gravadoras menores estão apostando no ritmo. A Eldorado vai lançar o disco da banda curitibana Scuba e a Paradoxx também está preparando uma coletânea com vários grupos que fazem ska.
Em menor grau, as gravadoras continuam investindo no sucesso dos Mamonas Assassinas, vide a "surf music" dos grupos Os Ostras e Lagoa.
"Não apareceu ninguém realmente novo, com uma música que seja atemporal. As gravadoras ainda estão investindo em um bando de engraçadinhos que não vão para lugar nenhum. Talvez o ska seja mesmo o que tem mais a ver com o verão brasileiro, essa coisa de praia e país tropical", afirma o radialista e compositor Kid Vinil.
Continuando uma tradição que surgiu com o "Madagascar Olodum" da banda Reflexus, a Bahia também segue produzindo seus hits. "Dança da Bundinha" do É o Tchan está inegavelmente em qualquer lista deste ano, ao lado do "Tic Tic Tac", de Carrapicho e "Garota Nacional", do Skank.
Em termos de show Paralamas, Carlinhos Brown, Skank e Chico César farão o maior número de apresentações da temporada, também segundo a pesquisa.
Fazedores de hit
No Brasil, há alguns compositores -voluntariamente ou não- especialistas em "hits de verão". Dois exemplos fáceis são Lulu Santos e Rita Lee.
Dele, há pelo menos uma dúzia de músicas que poderiam entrar numa parada de todos os tempos. Ela, então, reinou quase soberana no início dos anos 80 com seu "Banho de Espuma", "Chega Mais" etc., antes das novas bandas de rock brasileiro virem à tona.
Para tentar lembrar quais foram as músicas que marcaram os finais de ano de muitos brasileiros, a Folha elaborou um "hit parade" com sucessos de verão desde os anos 50 (leia quadro à esquerda).
A lista foi feita com base em livros como "Enciclopédia da Música Brasileira", o "Documentos Sonoros" da enciclopédia "Nosso Século" e em livros sobre Carnaval. Contou ainda com entrevistas com Kid Vinil e o pesquisador musical Ayrton Mugnaine Jr.e, é claro, um pouco de memória. Isso porque não existe uma parada que registre as mais tocadas nas rádios nas últimas décadas.
O resultado mostra a predominância de sambas e marchinhas até 64 e um misto de tropicália, bossa nova e jovem guarda até os anos 70. Em seguida vêm as músicas de exaltação nacional ("Eu Te Amo Meu Brasil") e a disco de "Dancin'Days".
Na década de 80, o rock nacional ressurge, primeiro com o pop de Rita Lee, depois com bandas como Paralamas, Titãs e Legião Urbana. Até que a era Collor traz o estouro do sertanejo -ou breganejo, como preferem alguns-, logo substituído pelos ritmos baianos.
Por questão de espaço, muita coisa ficou de fora. Alguns dirão: onde está o "Ilariê" (Xuxa), ou "De Repente Califórnia?" (Lulu Santos).

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