São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Allen realiza suas fantasias em novo filme

MARIA CRISTINA FRIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES

Diretor de 'Todos Dizem Eu Te Amo' fala que pôde trabalhar com música nas cidades de que mais gosta

Um filme com as fantasias de Woody Allen. Assim o diretor define "Todos Dizem Eu Te Amo" ("Everyone Says I Love You"), recém-lançado nos EUA. "Pude trabalhar com música, nas três cidades de que eu mais gosto -NY, Paris e Veneza- e, o mais importante, fazer uma cena usando um bigode como Groucho Marx".
Woody Allen veio a Londres divulgar o filme que só vai ser lançado na Europa em março e está previsto para estrear no Brasil no final de fevereiro.
Durante a entrevista, fez comentários engraçados. Disse que optou por um musical porque o que mais gosta na realização de um filme "é o momento em que, tudo terminado, posso ficar em casa ouvindo discos".
"Esse filme foi indulgente comigo, tinha muitas coisas de que gosto e eu me diverti fazendo", afirmou Allen. Citou "Cantando na Chuva" e "Gigi" como os musicais que prefere e que assiste quando está deprimido.
Allen contou que ficou nervoso ao cantar. "Não é emocionalmente fácil como tocar. Tinha a certeza de que os músicos me olhavam se perguntando: 'Mas o que é que ele está tentando fazer'? Eu queria, porém, gente que não podia cantar cantando em cena -e eu era o mais perfeito exemplo disso."
A cena em que ele dá uma de Fred Astaire foi a mais descontraída, segundo Allen. "Gostei porque eu só tinha que segurar a Goldie Hawn. Só consegui dançar daquele jeito na minha formatura."
Allen disse que gostaria de fazer outro filme na linha de "Interiores" (1978). "Desde que eu tivesse uma idéia mais séria."
Em "Todos Dizem Eu Te Amo", ele quis oferecer entretenimento puro. "É isso que um musical é. E que qualquer filme tem que ser. Mesmo que seja do Ingmar Bergman. Divertir é a minha preocupação. Não quero que ninguém saia do cinema dizendo: 'Puxa, como aprendi com esse filme, que aula de física...'"
Sobre a escolha das músicas, disse que, conforme escrevia o roteiro, pensava em canções que ajudassem a contar a história. Usou muitas composições americanas da primeira metade deste século.
Questionado se o filme não é uma visão cor-de-rosa da classe alta, respondeu que acha os ricos muito divertidos e que ele, quando era criança, de uma família pobre, só tinha visto os hábitos dos mais abastados no cinema.
"Mas, em casos amorosos, eles têm os mesmos problemas idiotas de todo mundo. Eles querem uma garota, perdem a garota... não importa idade."
O próximo filme, segundo Allen, vai ser o oposto deste. É uma comédia, cheia de neurose e ansiedade, sobre os problemas de um personagem que está confuso.
A descrição não soa muito original, mas o diretor disse que, como o musical está fazendo sucesso nos EUA, não queria que as pessoas pensassem que ele está repetindo a fórmula por causa da bilheteria.
Acrescentou, no entanto, que quer voltar a fazer musicais, da próxima vez um original, com um compositor para ele.
Ao comentar a personalidade do comediantes, falou de uma teoria sua:. "Eles têm uma vida longa, como Chaplin e Groucho, porque têm a virtude da imaturidade. Não se comportam como homens."

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