São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Os grandes momentos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Ontem me perguntaram quais seriam os melhores momentos de um homem. Respondi à maneira dos judeus, fazendo da resposta uma nova pergunta: "Que homem?" Bem, a pergunta era específica, queriam saber quais teriam sido os grandes momentos de determinado homem. E que esse determinado homem podia ser eu mesmo.
Acredito que, como qualquer outro homem, tenha tido não "grandes" momentos, mas momentos melhores do que outros, que não necessariamente seriam "piores". Antes de Machado de Assis, que não sabia se o Natal tinha mudado ou se ele é que havia mudado, Virgílio era mais cruel e abrangente: "Tempora mutantur et nos cum illis". Os tempos mudam e nós com eles.
Vai daí esses grandes (ou melhores) momentos volta e meia se revezam. Há contudo instantes recorrentes que frequentam o pódio da memória, mudam de posição, mas, como os políticos do PFL, estão sempre por cima.
Queriam saber pelo menos três desses momentos e não precisei me retirar à montanha, como Zaratustra, para orar, meditar e murmurar.
O primeiro seria a tarde de Natal em que padre Cipriano armou enorme árvore de Natal no centro do nosso pátio colonial. Estava tudo deserto, eu ia sozinho e distraído, não sabia que havia aquela árvore que de repente brotara de pedras seculares. E também de repente esbarrei com aquilo. Havia uma caixinha de música escondida entre os galhos. Foi mais um grande susto do que um grande momento.
O segundo seria outra tarde, tarde de domingo em Roma, no Campidoglio. Descia a enorme escadaria do Araceli e descobri, mais uma vez de repente, que jamais repetiria aquela tarde, aquele sol oblíquo batendo naquelas paredes cor de ocre, sob um céu azul de inverno que só Roma sabe ter.
Bem, o terceiro, como naquela canção de roda, foi aquele que Teresa deu a mão.

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