São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
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Canhotos do futebol dominam a seleção

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Eles são uma minoria revoltada, birrenta, manhosa, indisciplinada, geralmente explosiva, ciclotímica, mas quase sempre genial. Falo dos canhotos do futebol, que hoje começam a se transformar em maioria na nossa seleção. Sim, porque, na ponta do lápis, há excesso de craques para poucas posições, quase todos canhotos. Vejamos, do meio-campo pra frente, excetuando-se a cabeça-de-área composta, digamos, por Mauro Silva e Flávio Conceição (se Zé Elias deixar) e a dupla Ronaldinho-Giovanni, todos os demais candidatos às vagas restantes são esquerdinhas.
Vá anotando: Djalminha, Leonardo, Denílson, Sávio, Rivaldo, Rodrigo, sem falar em Zé Roberto, que pode muito bem pleitear seu lugarzinho no meio, caso Roberto Carlos feche a porteira da esquerda.
Portanto, só aqui temos sete fortes concorrentes para duas posições, o que pode perfeitamente adernar esse time para a esquerda, como, aliás, tem ocorrido. Ou, então, forçar a deslocação de um desses canhotos para a direita, o que lhe furtará boa dose do talento.
Sei de cor que Mário Sérgio, um dos mais bem acabados exemplares dessa espécie singular, defende a tese de que o canhoto, pela direita do ataque, tem mais facilidade para driblar e mesmo melhor ângulo para o disparo a gol. E, na prática, como jogador, Mário provou sua teoria, inclusive na seleção de 82 de Telê, antes da Copa, no papel que Dirceuzinho acabou cumprindo na Espanha.
Mas o argumento soa mais como desafio do que como constatação: ora, se Nílton Santos, que era destro, transformou-se no maior lateral-esquerdo da história do futebol do mundo, por que um canhoto não pode cumprir tal fado, invertendo de lado?
Vou além: na modéstia só comparável ao seu talento incomum, o próprio Nílton indica seu superior -Júnior, outro destro da esquerda. Nem sempre, meus amigos, nem sempre. Pois o outro Santos monumental, quando se deslocava para a esquerda, era um desastre. E, para ficarmos nos tempos atuais, pegue-se esse múltiplo Cafu. Se quiserem murchar sua bola, é só colocá-lo lá na outra lateral.
Há casos e casos, como diria Acácio, o Grande.
E o nosso caso é saber quem entra e quem sai, à sinistra, nessa seleção do Zagallo. Uma sugestão: coloque-se Leonardo ao lado de Mauro Silva. E aí só teremos uma briga de meia-dúzia por duas cadeiras vazias.
*
Leio que Telê volta ao futebol, amuado com o seu vizinho do lado: o tricolor, clube que lhe estendeu o mais longo tapete vermelho da história do futebol brasileiro.
Só que, no São Paulo, Telê recusou o cargo de supervisor que agora assume no Palmeiras. Quem deveria amuar-se com quem?
*
Por falar em técnico, até quando esse Robinson Crusoé do futebol, ilha rochosa cercada de talentos por todos os lados, vai continuar sua obra predatória no Barcelona?
Ele só tem que colocar De la Peña para dar luz ao meio-campo e bolas a Giovanni e Ronaldinho. Pois é só o que ele não faz.

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