São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
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Líderes religiosos apóiam convocação de plebiscito

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Religiosos das igrejas católica e protestante apóiam a idéia de realizar um plebiscito para decidir se o presidente Fernando Henrique Cardoso poderá ou não disputar a reeleição.
A Folha defendeu a realização da consulta popular em editorial publicado no último dia 22.
"O povo é que deve decidir", diz o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns.
Apesar de apoiar a consulta aos eleitores, d. Paulo se diz "indiferente" quanto à reeleição de FHC.
O presidente do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), d. Glauco Soares de Lima, que é bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, defende que o atual presidente tenha direito a ser reconduzido ao cargo.
"O direito de ser reeleito é uma aspiração legítima do presidente. Não se trata de um casuísmo, uma vez que a Constituição pode ser alterada nesse sentido", diz o bispo.
Ainda segundo d. Glauco, o plebiscito é "a forma mais democrática de decidir a questão", mas ele faz uma ressalva: "Se a reeleição for aprovada, deverão ser criados mecanismos mais rigorosos de controle do uso da máquina".
Na mesma linha, o reverendo Caio Fábio, presidente da Associação Evangélica Brasileira, que reúne protestantes tradicionais e pentecostais, defende o princípio da reeleição, mas acredita que ele só poderia ser inserido na Constituição por meio de um plebiscito.
"O Congresso constituinte foi eleito pelo povo para escrever a Constituição de 1988, logo, para alterar uma norma importante decidida por ele, acredito que seja necessária uma nova consulta à população", explica o reverendo.
Críticos
O mais crítico entre os religiosos consultados, o bispo católico d. Angélico Sândalo, da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), "lamenta" a prioridade que o governo FHC dá à reeleição.
"Eu preferia ver o professor Fernando Henrique convocando a nação e o Congresso para resolver os problemas da educação, saúde e emprego", diz. "É ridículo e dramático que um governo, que eu respeito, tenha sucumbido à volúpia pelo poder", completa.
Para ele, a "essa situação só pode ser resolvida por um plebiscito. Seria um golpe do Congresso alijar a população dessa decisão".
Na mesma linha, o pastor Jaime Wright, da Igreja Presbiteriana, é contra a reeleição e a favor do plebiscito. "As regras não devem ser mudadas. A insistência do presidente na sua reeleição é doentia e uma traição à democracia", diz.
Para d. Antônio Celso Queiroz, ex-secretário-geral da CNBB, o presidente FHC tem direito a pleitear sua reeleição.
Ele apóia o plebiscito e ressalta que o mecanismo deveria ser muito mais utilizado no Brasil. "Tomará que o plebiscito da reeleição seja apenas um começo", diz.

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