São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acordo na OMC deixa muito no ar

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A primeira cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada há poucos dias em Cingapura, sob o comando do italiano Renato Ruggiero, deu poucos resultados imediatos. Serviu mais para delinear o começo de uma agenda, marcar posições e sugerir cenários. A expectativa central, de que o mundo estaria prestes a entrar numa nova onda de liberalização comercial global, foi frustrada.
Duas grandes questões dominaram o noticiário: o acordo sobre tecnologia da informação (TI) e a entrada da China. A rigor, pode-se dizer que a própria OMC tem um déficit de representação do que se passa no comércio internacional enquanto a China estiver do lado de fora da organização.
Segredos
O acordo sobre TI foi assinado pelos grandes e por um punhado de países asiáticos (a Ásia representa praticamente um quinto do mercado mundial em tecnologia da informação). Isso significa que a Ásia está na vanguarda da liberalização comercial e que os governos asiáticos se dispõem a uma abertura rápida e unilateral?
Muita gente gostaria de acreditar nisso. Até hoje debatem-se as causas do desenvolvimento asiático e há uma forte corrente acadêmica que atribui os "milagres" da região à inserção dos tigres no comércio internacional. Sobretudo no Brasil, há uma legião de admiradores dos processos de abertura comercial unilateral (aliás, essa posição é hoje abertamente criticada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil).
Mas não se trata de uma questão simplesmente doutrinária ou acadêmica. Em meio à vasta cobertura da imprensa à cúpula de Cingapura, vale a pena destacar um artigo do último dia 20 publicado pelo "The Wall Street Journal" e assinado por Darren McDermott e Wayne Arnold.
Os repórteres afirmam que, se existir alguém ou algum estudo mostrando qual é a realidade tarifária no setor de TI dos países asiáticos, trata-se de um "segredo muito bem guardado". São milhares de tarifas sobre as quais ainda não se sabe o suficiente. A conclusão é que os benefícios do acordo para os países e consumidores asiáticos podem estar distantes.
Os cortes de tarifas prometidos no acordo começarão gradualmente só em 1998. E alguns países asiáticos continuam negociando para prolongar os prazos em vários sub-setores de TI.
O limite colocado inicialmente pelos Estados Unidos para a eliminação de tarifas, o ano 2000, muito provavelmente será superado pelos fatos. Os repórteres do "WSJ" citam o ministro da Indústria e Comércio Internacional da Malásia, que está negociando a prorrogação e ainda não declina quanto tempo seria ainda necessário para de fato aderir ao acordo.
Na prática, o acordo em tecnologia da informação da OMC tem exportadores demais e importadores de menos. Para começo de conversa, os dois maiores mercados asiáticos, China e Índia, não o assinaram. A tarifa chinesa sobre computadores pessoais (PCs), em 20%, é das mais altas na região.

Texto Anterior: Final de ano
Próximo Texto: 1996, o ano que não acabou
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.