São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 1996
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EUA assistem à briga de 'CNNs' do esporte

DO "USA TODAY"

Aqui está algo diferente: um canal de esportes que não transmite eventos ao vivo.
A ESPNews debutou em 1º de novembro (nos EUA), oferecendo todas as notícias do esporte. Mas com apenas cerca de 2% dos EUA em condições de sintonizá-la.
Quem puder, verá mais do que melhores momentos e comentários. Verá um gigante da mídia usando sua marca como alavanca.
John Walsh, vice-presidente senior da empresa, não vê problemas na noção de que o ESPNews é uma versão 24 horas do SportsCenter (programa de uma hora com as principais notícias do dia), marca registrada da ESPN.
"Isso é um elogio para nós. Continuaremos com a teoria do SportsCenter e com os melhores momentos. Mas temos que nos certificar que teremos um produto diferenciado com o ESPNews, colocando notícias dia e noite."
Barbara Edwards, que dirige uma operadora de cabo em Phoenix City, Alabama, com 15 mil assinantes, comprou a idéia: "O terceiro canal da ESPN pode bater a concorrência. Somos malucos por esportes no Alabama".
(Nos EUA, existem a ESPN, a ESPN2 e, agora, a ESPNews. No Brasil, existem a ESPN Brasil e a ESPN Internacional, com programações diferenciadas.)
A ESPN, claro, arranja divertimento para tais malucos. E a ESPNews é apenas o último fruto de um empreendimento que se multiplica como coelhos desde que um relações-públicas desempregado, Bill Rasmussen, deu início a tudo com um canal em Connecticut.
A emissora, que se tornou ESPN em 1979, cresceu e estourou, com participação em 19 redes de todo o mundo, um amplamente utilizado serviço na Internet e um parque temático de diversões, o ESPN Club.
O parque, obviamente, fica na Disney World, resultado da aquisição, em 1995, da Cap Cities, matriz da ESPN, pelo grupo Disney.
Michael Eisner, da Disney, salientando suas grandes esperanças na ESPN, viu uma natural sinergia na associação: "A Disney, por intermédio de alguns de nossos desenhos e produtos do Pateta, sempre teve orientação esportiva".
Mas não espere que os músculos de Mickey sejam irresistíveis. O primeiro obstáculo para qualquer novo canal a cabo -e mais de 100 foram desovados nos anos 90 nos EUA- é ser captado pelos 27 mil sistemas de cabo do país.
O ESPN2, o canal a cabo que mais cresceu nesta década, está agora em 39 milhões de domicílios após ser lançado em dez milhões. Esse crescimento, entretanto, veio depois que a ESPN2 alterou sua programação, investindo nas coberturas de eventos ao vivo.
Oferta
Alegando gerar perto de 20% do total do ganho com publicidade dos operadores de cabo, a ESPN tenta recrutar alguns clientes, que já transmitem a ESPN2, oferecendo a ESPNews com desconto ou até de graça. Mas no lançamento do canal, incluindo o serviço por satélite, o total alcançado foi de apenas 1,5 milhão de domicílios.
O ex-presidente de esportes da CBS (uma das três grandes redes abertas dos EUA), Neil Pilson, diz: "Não é um começo auspicioso. Tenho certeza que a programação será boa. O problema é saber como será a demanda".
A Time Warner, a única companhia de mídia no mundo maior que a Disney, lançou seu CNN/SI em 12 de dezembro. Como a ESPNews, de formato noticioso em detrimento aos eventos ao vivo.
Graças a suas conexões corporativas, a CNN/SI explora a "Sports Illustrated" (o mais importante semanário esportivo dos EUA), que também é de propriedade da Time Warner, como uma espécie de forragem ao vivo.
E existe a Fox Sports Net, um conjunto de oito redes a cabo esportivas regionais que alcançam 20 milhões de domicílios.
Ao contrário da ESPNews e da CNN/SI, a base da Sports Net é a ação dos jogos locais. Mas, associada à Fox, poderá proporcionar programas noticiosos esportivos de âmbito nacional, a serem introduzidos nas programações locais.
Publicidade
Mas notícias sem fim não excitam Jon Mandell, responsável pela agência de publicidade Grey Advertising. O universo das TVs a cabo noticiosas não é ilimitado: o campeão de audiência da ESPN é o SportsCenter, média de 840 mil domicílios; a CNN, com base nas 24 horas, tem média de 368 mil.
"Todos estão fazendo mais TVs esportivas querendo se aproveitar da falta de espaço do tema nas reais TVs noticiosas", diz Mandel.
"Mas quando a notícia é disponível em todo lugar, ninguém acha importante."
Se é assim, parece pouco importante. Enquanto apenas um em cada sete domicílios com cabo nos EUA sintoniza mais do que 54 canais, a expectativa é de que isso mude dramaticamente com a TV digital e a fibra ótica.
Harris Blass, da Prime Cable, em Las Vegas, que tem cerca de 310 mil assinantes, espera que a capacidade de canais de seu sistema cresça dos atuais 60 para cerca de 285 no ano 2000.
Essa variedade pode beneficiar os canais mais conhecidos e suas variações: os telespectadores apreciarão muito nomes familiares quando "surfar" pelos canais parecerá uma tarefa impossível.
Mas, mesmo agora, Blass vê as marcas famosas como chaves.
Com sua capacidade de canais "esgotada", ele diz que as duas novas emissoras "não são diferentes o suficiente para serem ambas contratadas". E ele está preferindo a CNN/SI. "A ESPN, claro, é uma marca conhecida. Mas CNN e 'Sports Illustrated' são duas."

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