São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 1996 |
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MST quer manter 'guerra permanente', diz governo Relatório aponta sem-terra como maior foco de tensão do país VALDO CRUZ
Assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso consideram o MST o principal foco de "tensão social" do atual governo. Chegam a avaliar que os líderes do movimento podem perder o controle sobre a organização, com consequências imprevisíveis. Essa avaliação fez com que o Palácio do Planalto determinasse um acompanhamento sistemático das ações do grupo, principalmente depois do incidente de Eldorado do Carajás (PA). Na época -abril de 96-, 19 sem-terra morreram durante conflito com a Polícia Militar. O governo avaliou que foi pego de surpresa por esse e outros episódios envolvendo sem-terra. Atualmente, relatórios quase diários são produzidos sobre o MST. A Folha teve acesso a alguns desses documentos. Todos trazem a identificação de relatório confidencial. Suas folhas são carimbadas com códigos para tentar evitar vazamento de informações. Um deles, do final deste ano, traz o seguinte título: "Avaliação da conjuntura agrária faz MST reorientar linhas de ação". O documento tem sete páginas e, em sua abertura, traz uma síntese das informações nele contidas. O texto informa que, após "avaliação da conjuntura agrária, a Secretaria Nacional do MST enviou circular às suas direções estaduais para comunicar a adoção de novas linhas de ação, a manutenção de uma verdadeira guerra permanente contra o governo e a decisão de trabalhar melhor as alianças com trabalhadores urbanos". Guerra popular No tópico "linhas políticas gerais", o relatório menciona que os líderes do MST avaliam que a guerra permanente contra o governo será uma "verdadeira guerra popular prolongada". No mesmo item, o documento traz a seguinte informação, atribuída aos líderes dos sem-terra: "Embora estejamos numa verdadeira guerra, devemos cuidar para não expormos nossos contingentes. Evitar confrontos desnecessários e buscar acúmulo orgânico". O tópico "definições práticas/encaminhamentos" relata que o MST vai organizar no próximo ano uma marcha sobre Brasília, saindo de cinco regiões do país. A marcha deve ter "em torno de mil quilômetros", com chegada prevista na capital no dia 17 de abril. O texto produzido pelo governo relata ainda que o MST considera que os latifundiários tiveram uma derrota política com a nova proposta de rito sumário -que reduz o prazo para o Incra tomar posse de terra desapropriada. A proposta é classificada como um avanço, "embora na prática tenha pouca eficácia". Reeleição Até a emenda da reeleição está presente no documento. Ela aparece no item "as táticas do governo" para a reforma agrária. Segundo o relatório confidencial, os sem-terra analisam que a estratégia oficial é "ganhar tempo" para elaborar uma "proposta mais consistente, pensando num período maior que compreenderia a reeleição de FHC". Para ganhar tempo, a tática do governo seria confundir a opinião pública. "A cada semana, (o governo) anuncia uma nova medida de pouca eficácia". O documento relata algumas dessas medidas, como a compra de terras dos bancos Econômico e Nacional, a mudança do ITR e o empréstimo de US$ 150 milhões do Banco Mundial. Guerrilheiros Outro relatório ao qual a Folha teve acesso fala de um contato entre líderes do MST e guerrilheiros da Colômbia. O movimento teria tentado obter informações sobre a situação dos engenheiros da empreiteira Andrade Gutierrez sequestrados pela Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O documento do governo ressalta que o contato não teve nenhum objetivo de troca de táticas de atuação, mas destaca que é um sinal de que o MST pode estar se aproximando de movimentos de guerrilha da América Latina. Texto Anterior: Doçura truculenta Próximo Texto: Texto ensina a dar entrevistas Índice |
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