São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 1996
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"Samba do ventre" põe Jorge Ben no Corão

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Charles Anjo 45" cai nas graças do Corão. E está inventado o "samba do ventre", técnica mista de rebolado que une o ziriguidum do morro e os "serpenteios" de todos os desertos.
Sucesso com o carimbo da pluralidade paulistana, a nova dança nasceu com o grupo El Khalili Belly Dance, especializado em ritmos árabes e seus derivativos.
Comandado por Amyra El Khalili, 31, uma palestina chegada em um swing, o grupo surpreende platéias no Brasil e países do Oriente Médio ao juntar o samba e também ritmos caribenhos à técnica "raks el chark" (dança do ventre).
Os Djs do El Khalili embalam as dançarinas principalmente com o maior engenho do swing brasileiro, o cantor e compositor Jorge Benjor.
O grande hit é a música "Charles Anjo 45", mas também aparecem os sucessos "Caramba", "Cadê Tereza?", "Miudinho" e "Taj Mahal".
Fora do mundo de Jorge, as dançarinas se empolgam também durante o show com a música "Alienadinho", de Heraldo do Monte e Hermeto Pascoal.
A próxima novidade no repertório do grupo será a versão de Chico Science & Nação Zumbi para "Maracatu Atômico", de Jorge Mautner e Nelson Jacobina.
Depois do El Khalili, outras corporações já começam também a adotar o "samba do ventre", uma das prováveis novas manias do verão de São Paulo, cidade de tantos árabes e descendentes.
Sem rótulo Surgida há cerca de cinco mil anos a.C., a dança do ventre se transforma, com o samba no pé, em uma coreografia multi-qualquer-coisa, pós-world-dance, muito além de qualquer rótulo.
"Nosso grupo nunca esteve preocupado apenas com o modismo da dança do ventre", diz Amyra.
"Queremos fazer uma conexão séria de ritmos que vai dos clássicos árabes, passa pelo funk-jazz e cai no samba".
Nessa linha de experimentalismo, o El Khalili Belly Dance vai se juntar agora, para uma série de shows no Brasil e exterior, ao coral Coração de Ébano (antigo grupo Cantores de Ébano), dirigido pelo maestro Estevão Maya-Maya.
Anorexia
Contra a ditadura estética da magreza anos-90, (tipo as musas "ossudinhas" da revista "The Face"), o grupo El Khalili prega outro formato para a sensualidade.
"A cultura árabe não discrimina a mulher de idade, tem preferência pela mais cheinha, do tipo gostosa, matreira e sensual", informam os panfletos e folhetos de divulgação das dançarinas do grupo.
Além da dança, o grupo também faz, tanto nas publicações como em palestras, manifestos contra a imposição dos padrões "publicitários" da mulher ocidental.
O El Khalili Belly Dance é formado por um coreógrafo (Ali Youssef Majzub) e seis dançarinas (Amyra, Eliane Tonom, Elizabeth Medina, Estrela Andradia, Soraia e Sonia Elias El Diab Layaun).

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