São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 1996
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Russificação deixa cicatrizes profundas

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL À MONGÓLIA

Viajar pela Mongólia é como vasculhar uma das fronteiras avançadas do desaparecido império soviético.
Empurrada pela rivalidade histórica com a vizinha China, a Mongólia montou, desde os anos 1920, uma aliança com Moscou que deixa vestígios de russificação até hoje.
O governo mongol busca, atualmente, uma política de equidistância entre a Rússia e a China. Mas os laços com Moscou deixaram cicatrizes fortes.
Na década de 1940, o poder soviético impôs o uso do alfabeto cirílico (usado por idiomas como o russo) no lugar do tradicional alfabeto mongol.
Jornais e revistas com letras estrangeiras dão um leve ar europeu a esse recanto asiático.
Também no modo de se vestir os mongóis copiam os russos. Usam casacos e chapéus de pele que, na sua maioria, lembram modelos cortados em Moscou.
No entanto, não é difícil ver pessoas com o colorido traje tradicional mongol caminhando pelas ruas da capital Ulan Bator.
O passado soviético sobrevive ainda na estátua de Lênin, o líder da Revolução Russa de 1917, que vigia a praça em frente ao hotel Ulan Bator.
Estilo soviético
Também o mausoléu de Sukhbaatar, o herói da independência mongol, teve como modelo o mausoléu de Lênin instalado na praça Vermelha, em pleno centro de Moscou.
Os prédios de Ulan Bator repetem o estilo arquitetônico do "realismo socialista".
Grandes conjuntos habitacionais dão um aspecto de monotonia visual à capital mongol.
Carros também lembram o grande vizinho russo. Circulam Lada e Volga, importados da Rússia, decorados com adesivos e luzes no painel, um costume encontrado com frequência em Moscou.
Hábitos de alimentação, como comer pão, e o comércio de bebidas alcoólicas também revelam a influência do norte.
O consumo de vodca, costume copiado dos russos, se tornou até um problema de saúde pública, por causa do grande aumento do alcoolismo.
Numa de suas visitas a Ulan Bator, o Dalai Lama, principal líder espiritual do budismo tibetano, atualmente exilado na Índia, chegou a pedir aos mongóis que diminuíssem o consumo de vodca.

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