São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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Petista foi 'fantasma' em gabinete do PPB

CARLOS EDUARDO ALVES
JOÃO BATISTA NATALI

CARLOS EDUARDO ALVES; JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo na hierarquia do PT recebia sem trabalhar de presidência da Câmara de SP, comandada por malufista

Cândido Vaccarezza, secretário-geral do PT, foi, de abril até o final do mês passado, funcionário "fantasma" do gabinete do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o malufista Brasil Vita (PPB).
O procedimento inusual abriu nova crise no PT. Como secretário nacional do partido, Vaccarezza na prática só tem menos poder do que José Dirceu, o presidente.
Corre risco a permanência de Vaccarezza na secretaria do PT. Já há conversas nesse sentido e correntes de esquerda do partido, que nunca concordaram com a indicação de Vaccarezza, estudam uma maneira de afastá-lo.
Dirceu, de acordo com Vaccarezza, foi informado da situação. O presidente do PT está no Chile.
Vaccarezza afirmou que é médico concursado da prefeitura desde 84. Até o final de 95, estava comissionado no gabinete do vereador petista José Mentor.
Requisitado para voltar à Secretaria de Saúde no final de 95, Vaccarezza trabalhou durante cerca de três meses no Hospital do Tatuapé. O estranho acordo entre malufismo e petismo começou aí.
Dizendo que não trabalharia no PAS (Plano de Atendimento à Saúde), já que seu partido discordava do programa, Vaccarezza entregou o caso para o então líder petista na Câmara, José Mentor.
"Não sei os termos do acordo, mas não assumo a pecha de funcionário 'fantasma' porque o acordo deve ter dado compensações a outros partidos também", disse Vaccarezza.
"Acordo circunstancial" Mentor confirmou que pediu a Vitta a manutenção de Vaccarezza como comissionado. "Foi um acordo circunstancial. Vaccarezza foi lotado no gabinete da presidência, não de um malufista", disse.
No PT, Vaccarezza e Mentor pertencem ao mesmo grupo político. Mentor afirma que os demais vereadores da bancada foram informados da solução, mas não apresentaram restrições.
Devanir Ribeiro, atual líder, nega que a bancada tivesse conhecimento do acordo. "Nós soubemos há menos de um mês e ficamos perplexos", declarou Ribeiro. "É uma aberração comissionar uma pessoa no gabinete da presidência se ela não pode ser comissionada por um vereador."
O atual líder petista acrescentou que o fato de Vaccarezza ser "fantasma" só agrava a situação.
Vaccarezza descarta a renúncia. "Nunca diminuí a oposição a Maluf por causa do comissionamento", afirmou. Antes do acordo com Vitta, Vaccarezza disse que tentou sem sucesso obter licença sem vencimentos.
O secretário petista, depois de pressionado pela bancada do PT, foi comissionado no gabinete do vereador Arselino Tatto (PT). Agora, prometeu que até o final de semana decide se pede afastamento dos quadros da prefeitura, sem vencimentos, ou demissão do funcionalismo municipal.
A assessoria de Vitta informou que é normal comissionar funcionários da prefeitura no gabinete da presidência e, depois, cedê-los para prestação de serviço em gabinetes de vereadores.
Hábito A prática de comissionar "fantasmas" não é exclusiva de Mentor no PT. Muna Zeyn, funcionária da prefeitura, é comissionada no gabinete do vereador José Eduardo Martins Cardozo (PT) e trabalha para a ex-prefeita Luiza Erundina.
Luiz Inácio Lula da Silva também é beneficiado pela cessão de assessores. Paulo Vanucchi, funcionário de carreira da Câmara Municipal, é comissionado no gabinete de Devanir Ribeiro, mas trabalha no escritório de Lula.

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