São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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Atenção integral à saúde

CARLOS FREDERICO DANTAS ANJOS

A Constituição assegura a saúde como direito, "garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação", tendo como diretriz, entre outras, a integralidade do atendimento.
Tomando a Grande São Paulo como exemplo -ao lado de uma grande rede pública e privada de postos e hospitais há um diversificado padrão de morbi-mortalidade, com destaque para doenças coronarianas, cerebrovasculares, homicídios e infecciosas-, podemos ver a distância entre a realidade da assistência e o exercício desse direito.
Se no campo da prevenção temos obtido resultados animadores -como a erradicação da poliomielite-, quanto à assistência médica ainda estamos longe de assegurar a qualidade e integralidade do atendimento. Exemplo disso é o caótico atendimento nos prontos-socorros dos hospitais, com filas enormes, doentes amontoados nos corredores, malvistos, mal-atendidos e maltratados. Aqui só lhes é assegurado o acesso, pois a qualidade e a integralidade da atenção ficam muito a desejar.
Mesmo em municípios onde houve avanços, ainda é muito parcial o atendimento, ficando muitas vezes os pacientes sem acesso a recursos diagnósticos, terapêuticos e de especialidades.
Contribuiu muito para isso o desmonte da rede de ambulatórios, postos e unidades básicas de saúde, que, desaparelhados e sem especialistas, perderam seu poder de resolução, fazendo com que os doentes sejam encaminhados a outras unidades, sem a garantia do atendimento, consagrando a chamada "empurroterapia".
Na prática, restaram à população apenas os serviços de urgência/emergência dos hospitais, que são porta de entrada e saída do sistema. Bem ou mal, funcionam 24 horas e ainda dispõem de um mínimo de recursos. Ou seja, nosso sistema vai no caminho inverso da lei e do universalmente aceito.
Quando tanto se discutem a qualidade do atendimento e o financiamento da saúde, é importante que os recursos sejam de fato destinados à saúde, para manutenção de suas atividades preventivas e recuperação das unidades básicas.
Não é só assegurar o acesso, é preciso garantir o atendimento em todos os níveis. Para os médicos e profissionais de saúde, é angustiante e frustrante constatar que a assistência médica prestada fica muito aquém daquilo que o cidadão merece e a que tem direito.

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