São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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ARTES PLÁSTICAS

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O circuito brasileiro das artes plásticas ganha mais corpo em 97. Mas isso não significa necessariamente que o mercado se desenvolverá e adquirirá contornos de Primeiro Mundo, com espaço para emergentes, revistas especializadas e crítica melhor preparada.
O corpo aqui -em sua presença ou ausência- significa a preocupação e a discussão que boa parte dos artistas emergentes e promessas propõem para 97.
A carioca Laura Lima, por exemplo, apresenta em maio, em sua primeira individual em São Paulo, uma série de performances inéditas, criadas para as pequenas salas da Casa Triângulo.
A artista foi um dos destaques do projeto "Antarctica Artes com a Folha", com uma performance em que uma menina de camisola branca pulava corda em uma banheira com gelatina vermelha.
"Minha obra tem trabalhado com questões do corpo e do movimento, com a confusão criada pelo espaço do corpo em relação a um espaço dado. As pessoas precisam dessa projeção, dessa relação fenomenológica para existirem", disse.
Depois das performances, restarão apenas suas sobras. "Ficam os vestígios da imagem que não pode ser agarrada", disse.
A ausência do corpo é o fio condutor do trabalho de Maurício Ianês, que procura discutir a possibilidade de representação de um pensamento que não tem corpo.
Sua discussão parte de simbolismos presentes no judaísmo, como a proibição de representação de conceitos sagrados em imagens. "Apesar de eu tratar de questões ligadas à minha religião, tento ir além dessa sacralidade e discutir questões não minhas, e sim do homem". Ianês ainda não tem galeria ou mostra programada para 97.
O novo ano também traz uma nova face para o trabalho de Rosana Monnerat, outra artista do "Antarctica Artes com a Folha".
Sempre dedicada às gravuras, Monnerat produz agora série de pequenas esculturas em cera de abelha, gesso e fios de cobre. "Tenho muita vontade do corpo. Acho que sempre tive talento para a escultura", diz a artista, sem modéstia. "Sei que é muito narcisismo, mas as esculturas são como materializar meu próprio corpo". Monnerat tem mostra na Casa Triângulo no primeiro semestre.
Os artistas Marcelo Arruda, Márcia Xavier e Keila Alaver também usam o próprio corpo como referência para seus trabalhos.
A fotógrafa Márcia Xavier, ainda sem galerista, vai para a Bienal da Havana (Cuba), em março, com o trabalho "Articulações", em que procura criar novas abstrações a partir de imagens sobreexpostas de seu próprio corpo.
Criar uma nova abstração a partir de linhas e formas orgânicas, uma tendência das artes nos últimos anos, marca também o trabalho de Marcelo Arruda, que parte de restos do próprio corpo (unhas e pele) para criar suas caixas de luz.
Keila Alaver ainda não tem mostra marcada, mas seu sucesso no "Antarctica" lhe rendeu um acordo com a galeria Luisa Strina. Alaver também partiu para a escultura e realiza uma em tamanho natural em couro e argila.
Mas pelo menos um artista tirou o corpo da obra e se deu bem. É Antonio Dorta, que trabalha com dois temas ingratos nos dias de hoje: a pintura e a figuração. Dorta pinta paisagens a partir de fotografias que ele próprio realiza.
Seus trabalhos mostram grande virtuosismo técnico, resultado de seu trabalho como restaurador, que lhe obriga a um cuidado extremo com detalhes, cor e luminosidade da obra.

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