São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Covas e Malan fazem ofensiva pró-acordo

RAQUEL ULHÔA; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal e o governador paulista Mário Covas (PSDB) iniciaram ontem um verdadeiro corpo-a-corpo para obter apoio do Senado ao acordo feito para tirar o Banespa do regime de intervenção.
O primeiro dia de negociações não foi suficiente para reduzir as resistências à operação e o governo acabou ouvindo novas reivindicações dos senadores.
Logo pela manhã, o ministro Pedro Malan (Fazenda) ofereceu um café da manhã aos líderes dos partidos governistas no Senado, mas não convenceu os representantes das duas maiores legendas -Hugo Napoleão (PFL) e Jader Barbalho (PMDB).
"Não é certo que o governo federal injete R$ 7,5 bilhões para resolver o problema do Banespa, quando apenas R$ 2 bilhões seriam necessários para a conclusão de todas as obras hídricas do Nordeste", disse Napoleão.
Segundo ele, "a bancada do PFL está, no mínimo, desconfiada" em relação ao acordo.
Barbalho também não está convencido e pediu informações a Malan sobre as condições de negociação da operação feita para salvar o Banespa.
As resistências ao acordo são mais regionais do que partidárias. "Eu só voto a autorização para o Banespa quando o governo federal duplicar a BR-101, campeã de acidentes em meu Estado", disse o senador Esperidião Amin (PPB-SC).
Garantias
No café, Malan tornou mais severo o seu discurso para convencer os líderes a aprovar a emissão de R$ 7,5 bilhões em títulos federais, prevista no acordo.
Ele procurou deixar claro que o crédito ao governo de São Paulo será feito mediante a apresentação de uma série de garantias.
Malan citou que, em caso de inadimplência de São Paulo, o governo federal poderá lançar mão da retenção de receitas estaduais.
Entre elas, o bloqueio do Fundo de Participação dos Estados e Municípios e o sequestro da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.
Além disso, Malan afirmou que o acordo prevê, se necessário, tomar 51% das ações ordinárias do Banespa -e, assim, assumir o controle do banco paulista.
Corpo-a-corpo
Já Covas reuniu-se com a bancada do PSDB no gabinete do senador Pedro Piva (PSDB-SP), com o líder do governo no Senado, Élcio Álvares (PFL-ES), e com os outros senadores paulistas Romeu Tuma (PSL) e Eduardo Suplicy (PT).
O governador mostrou números, documentos e repetiu os argumentos que vem usando para defender o acordo do Banespa.
"Não fui eu que fiz a dívida (R$ 15 bilhões) do governo com o banco. Estou sendo crucificado por querer pagar."
Covas argumenta que nenhum outro dono de banco com problemas financeiros se dispos a pagar as dívidas da instituição.
E comparou o Banespa ao banco Econômico, que será vendido ao Excel Banco.
"Por acaso o comprador do Banco Econômico ficou com a dívida? Não ficou. O prejuízo ficou com todos vocês", disse.
O Senado tem que autorizar o governo federal a emprestar R$ 7,5 bilhões ao governo de São Paulo, para que ele pague metade sua dívida junto ao Banespa.
O pagamento à União será feito em 30 anos. A outra metade será paga com a venda de estatais paulistas.
Piva vai propor à CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), na próxima quarta-feira, que o governador paulista seja convidado a prestar esclarecimentos.

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