São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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E são professores

JANIO DE FREITAS

O convênio que os ministérios da Justiça e da Fazenda formalizaram ontem, alegadamente para dotar a Sunab de autoridade com que reprimir as mensalidades colegiais abusivas, na verdade limita-se a mais uma encenação. A Sunab está completamente desaparelhada para a tarefa.
A Sunab nunca foi confiável, quer pela legendária farsa do tempo em que tinha a atribuição de fixar e controlar os preços, quer pelo péssimo conceito do seu setor de fiscalização. Mesmo que houvesse mudado, e não há qualquer indício disso, a soma dos fiscais da Sunab, no país todo, não daria para proceder àquela fiscalização nem mesmo em um só dos Estados onde os aumentos ilegais são mais numerosos -São Paulo, Rio, Minas.
O descaso do governo com o custo da educação, apenas continuado pelo convênio ilusório, poderia muito bem ser qualificado como crime social (mais um). No lançamento da URV, as mensalidades foram deixadas fora das regras de conversão, a pretexto de que logo receberiam regras próprias. Foi uma das mentiras oficiais.
As regras tardaram três meses, durante os quais os aumentos ficaram livres, e não fizeram mais do que abençoar tais aumentos e abrir caminho para outros. Era José Milton Dallari em ação, protegido e estimulado pela dita equipe econômica e, com empenho muito especial, pelo chefe do Gabinete Civil da Presidência, Clóvis Carvalho.
Nos primeiros meses do ano passado, os aumentos das mensalidades tornaram-se escândalos. Quando este e outros escândalos foram aliviados da produtividade de Dallari, José Paulo Vellozo Lucas assumiu a Sunab com promessas enfáticas de enquadrar as mensalidades colegiais nos limites dos aumentos razoáveis.
Razoáveis já nem podiam ser, pelo que ocorrera da URV até ali, tornando o custo do ensino no Brasil, sem a menor dúvida, o mais alto do mundo -com os professores entre os mais mal pagos do mundo. Mas vieram novas regras. Tão eficazes, que aí estão dois ministérios fazendo um convênio ilusório para atenuar a repercussão dos aumentos como sempre escandalosos.
Nunca houve um governo com tantos professores: Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, José Serra, Paulo Renato Souza, Bresser Pereira, Adib Jatene, José Israel Vargas, Francisco Weffort, só para lembrar um punhado e sem incluir níveis menos altos da administração. Nunca o ensino foi tão dificultado pelo custo.
Como sempre
Detentores de lotes, mas reduzidos à penúria pela seca que lhes devastou as safras, os lavradores reunidos em Porto Alegre faziam manifestação pacífica, buscando o diálogo com representantes governamentais para discutir um socorro financeiro. Nem ao menos integram o Movimento dos Sem-Terra.
A ferocidade que se atirou sobre a manifestação pacífica é própria da tara incutida nas forças policiais no Brasil todo. Mas não parecia que o uso dela fosse próprio do governo de Antônio Britto. De nada vale, neste sentido, que ontem recuasse para receber lavradores. Nada o impedia de fazê-lo, como era do seu dever, antes do uso da ferocidade insuspeitada.
Nova geração de políticos? Só na idade.

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