São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996
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Duas CUTs

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Não passam de jogo de cena as ameaças da Força Sindical de abandonar o acordo da Previdência no caso de o governo aceitar propostas exclusivas da CUT.
O que Luiz Antônio de Medeiros (Força Sindical) mais quer é a permanência de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (CUT), no acordo.
"Estamos trabalhando com a idéia de duas CUTs: uma democrática e outra não", disse Medeiros a esta coluna. O dirigente da Força Sindical não diz, mas almeja fechar logo o acordo da Previdência e, de quebra, uma divisão no seio de sua arqui-rival.
Medeiros avalia que Vicentinho se encaixa na ala "democrática" da CUT. Basicamente, a parcela da central que aceita discutir propostas.
Se o acordo prosperar, pensa Medeiros, a CUT racha e caminhará para uma posição mais moderada. Aos radicais sobraria uma minoria de sindicatos -que terão pouco poder de greve numa economia globalizada, com escassez de empregos.
Não é de estranhar que as posições de Medeiros sejam idênticas às do governo. Isso ocorre com mais força no Ministério do Trabalho.
O governo também espera um avanço qualitativo no fórum de discussões com sindicalistas depois do acordo. Não se trata de simpatia nem admiração por Vicentinho. O cutista é o aliado possível do momento.
Vicentinho, evidentemente, sabe de todas essas estratégias do governo e da Força Sindical. Está numa enrascada e sabe disso. Quer manter o acordo. Mas precisa garantir algum ganho para as propostas de sua central.
Hoje de manhã, junto com o ministro da Previdência, Reinhold Stephanes, vai decidir se aceita parte das propostas da CUT apenas dentro de uma lei complementar.
É muito improvável -para não dizer impossível- que o governo ceda e inclua os desejos da CUT na emenda constitucional.
Para Vicentinho, aceitar uma simples lei complementar é um tiro no escuro. A garantia é zero. Não aceitar será sepultar o acordo para a CUT.
"Em negociação não se fala nada durante o processo", desconversa Vicentinho. Sua decisão embute o futuro da central, do acordo e o seu próprio.
Até domingo, na reunião da CUT, será conhecido o verdadeiro Vicentinho.

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