São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Malan acha acordo 'aquém' do esperado

Acerto não elimina injustiças do sistema, diz ministro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, considera "aquém do que deveria ser feito" o acordo com o Congresso e com as centrais sindicais em torno da reforma da Previdência.
"Seguramente é um avanço em relação ao esquema anterior, mas não representa uma solução para o problema contábil da Previdência nem elimina as injustiças contidas no sistema", disse Malan na noite de sexta-feira em entrevista aos jornalistas brasileiros que acompanham o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça).
Antes, em palestra a um grupo de 52 pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, Malan já havia dito que a insuficiência do acordo alcançado fará com que a reforma da Previdência se dê em "rounds sucessivos".
Aos jornalistas, disse que, em algum momento, o "sistema terá que ser mudado". E usou, entre vários exemplos, o fato de o gasto com os inativos ter subido de 23% da folha de salários da União, em 1987, para 43% no ano passado.
A Folha quis saber por que um governo que supostamente tem maioria no Congresso aceita um acordo que seu ministro da Fazenda engole a contragosto.
"Você sabe muito bem que a maioria do governo não é organizada, é fragmentada. Muda conforme a questão em votação", respondeu o ministro.
No ano passado, pela avaliação de Malan, o governo conseguiu os 3/5 de votos necessários para algumas reformas constitucionais "porque estavam em discussão coisas pouco ideológicas".
"Já no caso da Previdência ou da reforma administrativa, se está lidando com legítimos anseios das pessoas e com interesses corporativos muito bem articulados."
Tanto na palestra como na entrevista, o ministro previu seis anos de crescimento da economia brasileira, três deles já passados (93 a 95). "Seis anos, entre 93 e 98, de crescimento entre 4% e 5% não é irrelevante", diz Malan.
Antes de degustar medalhões de cordeiro com molho de mostarda, Malan passou três recados principais ao seu pequeno público, reunido no salão "Spina" do luxuoso Hotel Belvedere:
1 - "Não vamos relaxar na batalha contra a inflação, porque ela ainda não foi vencida".
2 - "Não fizemos uma máxi-desvalorização cambial, ao contrário do que chegou a dizer uma emissora até de prestígio. Foi apenas 'business as usual"' (expressão inglesa que pode ser traduzida como ato de rotina).
Aos jornalistas, disse que a mudança no limite da banda cambial foi introduzida porque se estava chegando perto do teto máximo da banda anterior.
"Em algum momento, entre dezembro de 95 e março de 96, teria que ser feita a mudança. Foi feita no dia 30, só isso", disse Malan.
3 - "O governo brasileiro não tem como meta única o combate: a inflação. Quer assentar as bases para um crescimento sustentado e quer igualmente combater os nossos vexatórios problemas sociais".
O ministro se recusou, no entanto, a pôr números em suas avaliações sobre o desempenho da economia brasileiro, seja em matéria de inflação, seja em termos de crescimento.
Sobre a inflação, limitou-se a dizer que será menor em 96 do que em 95, menor em 97 do que em 96 e, em 98, menor do que em 97.
Sobre crescimento, foi algo mais preciso: "Tanto neste ano como nos dois seguintes, será igual aos 4% de 95 ou algo mais".

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Sobre davos às págs. 1-21 e 1-23

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