São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996 |
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Precisamos agir já, diz secretário-geral
DANIELA FALCÃO
Por isso, afirma N'Dow, o plano de ação que será traçado no fim da conferência precisa ser o mais prático e realista possível. "A população das cidades tem crescido de maneira assustadora. Os problemas também estão se multiplicando e, por isso, precisamos agir imediatamente", disse N'Dow em entrevista à Folha. Segundo ele, a participação de lideranças das grandes cidades será fundamental. "O Habitat 2 será o fórum ideal para que os municípios troquem experiências de sucesso e de baixo custo. Essa talvez seja a parte que traga, a curto prazo, mais resultados diretos." Leia a seguir os principais trechos da entrevista: Folha - Qual será o ponto mais polêmico da conferência? Wally N'Dow - Acho que a inclusão ou não do acesso à terra e moradia como parte dos direitos humanos. Essa é uma discussão antiga e muito apaixonante e acredito que ainda não será desta vez que conseguiremos um consenso. Folha - O sr. acredita que a falta de moradia seja o principal problema das cidades hoje? N'Dow - São dois os maiores problemas: a falta de casas e as péssimas condições de moradia. Cerca de 500 milhões dos 2,4 bilhões de pessoas que vivem hoje nas cidades não têm onde morar. Se formos incluir a área rural, são 1,5 bilhão de indivíduos desabrigados. É claro que isso é o mais grave. Só que também é preciso cuidar dos que moram mal. Em estudo recente foi constatado que 600 milhões de pessoas vivem em locais que ameaçam a saúde. A cada ano, 10 milhões morrem nas cidades por causa da poluição, falta de saneamento e água encanada. Nenhuma guerra mata tanto. Folha - Frear o crescimento urbano é uma solução? N'Dow - É preciso tomar cuidado com essa afirmação. As cidades podem e devem continuar crescendo, desde que haja infra-estrutura. O problema é que os centros que mais crescem se localizam em países em desenvolvimento. Em 2025, 80% da população urbana deve estar em países pobres. O Terceiro Mundo vive hoje o mesmo processo de urbanização acelerada vivido pelos países desenvolvidos há 50 anos. A diferença é que a renda média dos moradores das cidades da Europa e América do Norte é até 100 vezes maior do que a renda da população da Ásia, África e América Latina. Folha - Qual a solução então? N'Dow - Para conseguir oferecer condições satisfatórias de habitação e saneamento à população, as cidades desses países terão que administrar seu dinheiro de forma agressiva e criativa. Porque elas terão menos recursos para investir em serviços e infra-estrutura do que a Europa teve, por exemplo. Folha - E qual o papel do setor privado nesse processo? N'Dow - A parceria entre governo federal, municipal, setor privado e ONGs é fundamental para as cidades. Sozinho ninguém vai conseguir resolver nada. Folha - Essa integração é possível no curto prazo? N'Dow - Claro! Já há uma mudança de mentalidade. Não se coloca mais tanta responsabilidade no poder federal. Lideranças locais e empresários já estão tomando a frente de iniciativas que podem ajudar a melhorar suas cidades. Texto Anterior: 500 milhões de pessoas não têm onde morar Próximo Texto: Governo envia à ONU 18 projetos urbanos Índice |
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