São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Competição chega à previdência privada

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode anotar: 1996 será o ano da virada da aposentadoria complementar no país.
Depois de décadas de ensaio, finalmente o sonho de se "vestir o pijama" com dignidade pode se tornar realidade para milhões de brasileiros.
Palavra de qualquer executivo do setor de previdência privada.
Como Jorge Nassif Neto, superintendente da BCN Seguradora:
"É agora ou nunca. O país precisa poupar a longo prazo para crescer e o governo sabe disso. Não só sabe como está criando mecanismos para isso, estimulando a previdência complementar."
Aos pessimistas, os fatos:
1- Incentivo fiscal: este ano, os brasileiros poderão deduzir da renda tributável pelo Imposto de Renda as contribuições para fins de aposentadoria complementar;
2- INSS: a reforma da Previdência, que parecia impossível, ganha contornos de pacto social e ameaça sair do papel até junho;
3- Nova aplicação: o governo tem na boca-do-forno um projeto que cria a Conta Individual de Previdência Complementar, espécie de fundo pessoal para aposentadoria, também com incentivo fiscal.
Convencidas de que esses três estímulos alavancarão este novo mercado nos próximos meses, as empresas do setor estão lançando novos planos e melhorando as condições para os clientes.
A BCN entrou no mercado na virada do ano com o VivaVida, um plano bastante ousado, sem prazos de carência para pagamentos de coberturas ou para resgates antecipados.
Enquanto a maioria dos planos existentes prevê uma taxa de administração (também chamada de carregamento) de 5% a 12% sobre as mensalidades, a BCN entrou com uma taxa de 3% nos dois primeiros anos e de 2% nos seguintes, além de 1% a 3% (conforme o valor aplicado) nas mensalidades na época dos benefícios.
A BCN também foi mais longe na questão da divisão do chamado excedente financeiro, isto é, a rentabilidade das aplicações do fundo de aposentadoria que superar o mínimo legal (TR mais 6% ao ano, igual à da caderneta de poupança).
A maioria dos planos disponíveis oferece aos clientes 50% dos excedentes financeiros. A BCN repassa de 70% a 90%, conforme o saldo aplicado.
"Não é que somos bonzinhos, é que a concorrência está aumentando para valer. Os planos dos outros devem seguir o mesmo caminho", afirma Nassif.
A Itauprev, do Banco Itaú, que tinha um dos planos mais conservadores do mercado -sem divisão de excedentes financeiros-, melhorou-o e prepara-se para lançar nacionalmente, no segundo semestre, o Flexprev.
O novo serviço já está sendo oferecido em algumas cidades paulistas, como Piracicaba, Ribeirão Preto e Campinas.
A versão aditivada do velho plano traz, entre outros benefícios, repasse de 50% do excedente financeiro. E uma taxa de administração de 3% sobre as mensalidades e outra de 3% sobre os saldos.
"Nosso novo plano é totalmente flexível. O cliente pode começar, parar, voltar a contribuir e escolher diversas coberturas de risco", diz Dagoberto Orelhana, gerente de marketing da Itauprev.
Além dos novos planos, outro sinal de que o mercado está esquentando é a movimentação das empresas rumo à globalização.
A Icatu Seguros, por exemplo, associou-se em janeiro com a gigante americana ITT Hartford Life International.
A Prever, segunda maior do setor, com 200 mil participantes e R$ 400 milhões de ativos, caminha no mesmo sentido. Seus controladores, Unibanco e Bamerindus, negociam a venda de parte da empresa, para repor o sócio perdido em 1995, o Banco Nacional.
"Procuramos um grande grupo de fora e mais um ou dois bancos para a sociedade. Tem de ser um negócio muito grande, pois queremos nos manter entre os quatro maiores do setor", diz José Luiz Osti Muggiati, presidente da Bamerindus Seguros.

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sobre previdência privada na pág. 2-6

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