São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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País testemunha aumento de divórcios

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Em 1994, mais de 6 milhões de casais chineses se divorciaram, uma cifra 1,2% mais alta do que em 1990. Mas em Pequim, no ano retrasado, o número de separações cresceu 24,5% em comparação com o ano anterior, taxa recorde na China.
O motivo mais comum para o divórcio é a presença de uma amante, constata o advogado Zhang Huimin. Em Pequim, maridos infiéis surgem como motivo para 70% das separações.
Sociedade tradicionalmente modelada pela supremacia masculina, a China testemunha alguns avanços na situação da mulher. Entre elas o fim da submissão e da tolerância frente a relações extraconjugais do marido.
O regime comunista ajudou a eliminar a tradição imperial das concubinas, mas as reformas econômicas implementadas desde 1978 começaram a minar valores impostos nos últimos 40 anos e chegam a estimular aventuras fora do casamento. Existe até uma frase que descreve a atmosfera de parte do novo capitalismo chinês: um homem de sucesso precisa ter um carro importado e uma amante.
No caso de Pequim, um estudo mostrou que as mulheres levam a culpa em 30% das separações. Relacionamento precário com os sogros e restrições impostas ao marido desembocariam no divórcio. Mas a China, embora veja um aumento na sua taxa de divórcio, ainda integra a família dos países considerados como "de baixa taxa de separações".
A política chinesa de controle de natalidade, conhecida como "um casal, um filho", às vezes também funciona como gatilho da separação. Homens que desejam ter um bebê do sexo masculino buscam um novo casamento depois de ter uma filha com a primeira mulher.
Apesar das promessas de modernização feitas pelos comunistas quando de sua chegada ao poder em 1949, a sociedade chinesa seguiu embebida em valores tradicionais. Mulher divorciada era vista com muito preconceito.
"Mas essa visão está mudando", diz Liu Sujuan, da Federação das Mulheres de Rengiu. "O país está se desenvolvendo, se abrindo a outras influências e as mulheres estão ficando mais independentes e preocupadas com sua carreira". As reformas econômicas pré-capitalismo aumentaram a importância feminina na vida econômica.
Em março do ano passado, uma pesquisa da agência de notícias chinesa "Xinhua" diagnosticou menos da metade dos casais de Pequim feliz com seu casamento.
(JS)

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