São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Cartel de narcotráfico lucra US$ 7 bi

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Um só cartel sul-americano de narcotráfico teve um lucro no ano passado de US$ 7 bilhões, acusa Louis Freeh, o diretor do FBI (Birô Federal de Investigações, a polícia federal norte-americana).
É dinheiro suficiente para implementar exatamente cinco projetos iguais ao polêmico Sivam brasileiro, o Sistema Integrado de Vigilância da Amazônia.
A revelação foi feita ontem, em debate sobre crime organizado promovido pelo Forum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, a maior assembléia de personalidades públicas, acadêmicas e empresariais que se realiza anualmente no planeta.
Contou um episódio eloquente, ocorrido na Rússia: um grupo de São Petersburgo, a antiga cidade imperial russa, conseguiu retirar "milhões de dólares" de uma agência do Citibank de Nova York, usando computador portátil. Com ele, violou os códigos de segurança e sacou o dinheiro até que o banco detectou a operação.
Outro dos debatedores, Jules Kroll, diretor de uma empresa privada de investigações, em especial sobre corrupção, previu que o terrorismo internacional vai usar mais e mais o tipo de operação citado por Freeh. Em vez de colocar bombas, vai, até o fim do século, invadir "os vulneráveis sistemas financeiros". Definiu como "terrorismo financeiro" esse previsível novo tipo de crime.
Kroll foi contratado, em 1992, pelo Congresso brasileiro para investigar o chamado Collorgate, mas não concluiu as investigações porque houve o impeachment do então presidente Fernando Collor.
Mas ele deu uma pista que pode estar ligada a outro eventual escândalo brasileiro, o Sivam. Disse que "os serviços secretos e de inteligência de alguns países, inclusive os EUA, estão sendo usados para ajudar a obter contratos, em concorrências públicas, para firmas de seus respectivos países".
Kroll não citou nome algum. Mas o jornal norte-americano "The New York Times", no ano passado, informou que a CIA (o serviço de inteligência norte-americano) havia denunciado ao governo brasileiro supostas propinas pagas pela firma francesa Thomson, que concorria com a Raytheon (EUA) pelo Sivam.
A juíza Denise Frossard, da 10ª Vara Criminal do Rio, disse que "o Brasil é um paraíso para a lavagem de dinheiro" proveniente de negócios sujos. Por duas razões: até agora não transformou em crime a lavagem de dinheiro e por estar próximo dos centros de produção e tráfico de cocaína (Bolívia, Peru e Colômbia).

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