São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
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Fuvest mostra mapa sexual da universidade

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A lista de aprovados da Fuvest, divulgada ontem, mostra que ainda existem redutos masculinos e femininos na universidade.
Levantamento feito pelo Datafolha aponta quatro cursos dominados apenas por um sexo: armênio (só homens); fonoaudiologia na USP e na Universidade Federal de São Paulo (ex-Escola Paulista de Medicina) e terapia ocupacional na Universidade Federal de São Carlos (só mulheres).
Na área de exatas, a concentração masculina é bem maior (79%) -os homens são maioria absoluta nas engenharias, física, matemática e computação.
Os cursos "femininos" estão em humanas (letras, pedagogia) e biológicas (enfermagem, fonoaudiologia, psicologia etc.).
Desrespeitando essas fronteiras, há "infiltrados" que optam por cursos onde seu sexo é franca minoria. No curso de terapia ocupacional da USP, por exemplo, há apenas cinco homens na soma de todos os semestres -os calouros homens este ano são apenas 4%.
Sancler Lopes de Andrade, 20, é um deles. Estudante de 3º ano, Sancler conta algumas situações que ele mesmo qualifica de "constrangedoras". Em sua classe, há apenas mais um rapaz, André Luiz Campos Nunes. Os outros três homens cursam anos diferentes.
"Às vezes surgem uns papos entre as meninas como 'vamos lá na festa da engenharia' porque é uma festa com muitos homens. Eu e o André dizemos 'não, a gente não tá a fim'."
Fora da faculdade, em casa, também há momentos complicados, como na hora de fazer os trabalhos acadêmicos. Entre as disciplinas do curso, há por exemplo lições de bordado, fios e tecidos.
"Eu tive que fazer um bordado em casa. Aí pesou um pouco a família, como pode um filho homem fazendo bordado... Mas eu tiro de letra", conta.
Mergulhado entre mulheres, Sancler namorava uma garota de outra área. Uma jornalista. O namoro acabou há pouco tempo.
Na Politécnica, a mesma escola procurada por garotas da terapia ocupacional quando tem festa, a situação se inverte. Os cursos de engenharia são cheios de homens. As "infiltradas" passam apertado.
"Os estudantes e até os professores acham que as meninas são meio burras", conta Tatiana Yumi Vaccari, 19, 3º ano de engenharia. Ela entrou em engenharia metalúrgica, mas agora pediu transferência para civil.
Segundo Tatiana, não chega a haver preconceito, "apenas gozação". E é com bom humor que Tatiana conta a velha piada dos estudantes (homens) de engenharia, repetida nos corredores da Poli: "Quando Deus fez a mulher, perguntou: você quer ser bonita ou engenheira?".
Como Sancler, Tatiana não quer saber de namorado na própria faculdade. Namorava, no ano passado, um estudante de administração da Getúlio Vargas. Um namoro que também já terminou.
Tatiana diz que às vezes as meninas se juntam em um clube da Luluzinha, para saírem juntas. Mas há várias amizades intersexuais. "Tenho vários amigos na Poli. O pessoal é gente boa."

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