São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
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Mudança nos uniformes é bom avanço

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, para nós, jornalistas, é sempre constrangedor elogiar. Há um estigma na profissão -estigma esse que é maior no caso brasileiro do que em outros países- que espia o mundo sempre pelo lado negativo.
Evidentemente, há uma razão histórica para esse processo. A imprensa brasileira tem uma tradição, quebrada aqui e ali por corajosos veículos, de pouca independência. Só no recente processo de abertura democrática a imprensa passou a consolidar a sua independência -um bem cada vez mais valorizado pelos leitores.
Seja porque se queria demonstrar de fato uma nova etapa da profissionalização da imprensa no Brasil, seja pelo contrário (veículos que, quanto mais bradam a sua independência, mais a negociam nos bastidores), o fato é que um certo pessimismo estrutural passou a ser o arroz com feijão do jornalismo local.
Aliás, a própria existência deste preâmbulo, em si mesma, já indica uma certa má consciência jornalística quando precisa anotar alguma positividade.
Há tempos esta coluna insiste em uma questão: como um espetáculo moderno, o jogo de futebol profissional precisa respeitar aquela regra, adotada nas Copas do Mundo, de que os uniformes dos dois times em campo não podem se confundir em nenhuma das suas três peças (camisas, calções e meias).
Daí, como você se recorda, o Brasil já ter jogado com calções brancos ou azuis, com meias brancas ou azuis. E, se esse princípio é respeitado até quando se fala na farda sagrada de um escrete nacional, por que ele não era adotado nos campeonatos brasileiros?
Insisto que não é apenas uma questão de detalhes, porque:
A) As meias e os calções diferenciados favorecem os jogadores que, em grande parte das jogadas, estão olhado para o chão, à procura da bola. Se todos estiverem de calções e meias da mesma cor, a confusão é geral.
B) Indumentárias diferenciadas favorecem a arbitragem, que passa a ter uma visão mais nítida da disputa entre os jogadores.
C) Ganham os locutores e os comentaristas, que passam a ter visão mais clara dos lances e, portanto, podem prestar um serviço mais completo à audiência.
D) Em último, mais principalmente, ganha o público e o telespectador, os mais interessados no espetáculo.
Há também um ganho adicional: a expectativa sobre qual uniforme será usado pelo time cria mais um suspense interessante para os jogos. Deve-se levar em conta também que essa é uma época de pouca fidelidade às marcas tradicionais, e o público, principalmente o jovem, gosta de mudanças.
Dito tudo isso, o Paulista 96, além dos gols em pencas, avança quando exige que os times cumpram essa parte do regulamento que esta coluna resolveu fiscalizar. Ficou ótimo o São Paulo de calções pretos. Ficou ótimo o Corinthians de meias pretas. Melhorou o colorido do espetáculo os calções vermelhos do Mogi Mirim que o árbitro Carlos Elias Pimentel, corretamente, mandou o time adotar.
Quem não agiu certo foi o juiz Roberto Peraci, que não mandou o União São João trocar os calções brancos, iguais aos do América. Puxão de orelha nele, Farah.

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