São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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Clássicos em CD trazem erros de concepção

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

É inadequado o título que ela deu ao seu "Os Maiores Livros Clássicos do Mundo".
A antologia eletrônica possui lacunas imensas na seleção de seus autores e também das obras supostamente importantes de cada autor.
Digamos que, em lugar de optar pelo que é literariamente "importante", o melhor teria sido entregar a tarefa de seleção a algum acadêmico especializado no ramo.
Há grandes escritores ausentes. Nenhuma palavra sobre Samuel Beckett, Henry Miller, John Dos Passos ou Susan Sontag.
São com certeza mais clássicos que Charlotte Bronté. Em compensação, o CD-ROM traz escritores menores, como Richard Dana.
Quando deixa o campo dos autores de língua inglesa, as ausências são ainda mais gritantes. Nenhuma menção ao teatro de Racine, ao romance de Thomas Mann e de Honoré de Balzac, ou então a esse monumento que atende pelo nome de Marcel Proust.
É possível que algumas das ausências se devam a razões comerciais. Textos de autores mortos há menos de 50 anos ainda não caíram no domínio público e é preciso pagar direitos autorais.
Mas nem sempre é o caso. Se, entre as obras de filosofia, a Corel selecionou Kant, Descartes e Locke, não traz um verbete biográfico sobre Hegel e perde tempo com o ensaísta menor Charles Lamb.
Há um outro princípio que o CD-ROM contraria com frequência: o autor da tradução de determinado clássico traz uma seriedade quase tão grande quanto o do conteúdo do texto original.
Se "Antígona", de Sófocles, "Ana Karenina", de Tolstoi, e "Don Quixote", de Cervantes, têm seus tradutores identificados, o mesmo não ocorre com "As Bacantes", de Eurípedes, "Candide", de Voltaire, ou mesmo os contos infantis dos irmãos Grimm.
Em outras palavras, não há nenhuma garantia literária de que a tradução inglesa não tenha sido feita no passado por algum amador mal informado e que hoje suas imperfeições estejam ao alcance do leitor incauto.
O CD-ROM da Corel faz uma seleção incompetente das obras de autores cujos textos ela se dignou a incluir.
James Joyce é importante por "Ulysses" (1922) e por "Finnegan's Wake" (1939). Não trazer nenhum desses textos e apenas "A Portrait of The Artist as a Young Man" (1916) é grave. O mesmo vale para T. S. Eliot. Seu grande poema é "The Waste Land" (1922), e não "The Love Song of J. Alfred Prufroch" (1915).

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