São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo preferiu CUT à reforma, diz Medeiros

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, criticou ontem o governo FHC pelo desempenho durante as negociações sobre a reforma da Previdência Social.
"A CUT (Central Única dos Trabalhadores) deu uma lavada neles. Eles não sabem negociar", afirmou.
Para Medeiros, "os interlocutores do governo estavam completamente despreparados para negociar. Toda e qualquer negociação era feita em nome da manutenção da CUT no acordo".
Em São Paulo, longe das negociações finais em Brasília, Medeiros fez algo raro. Criticou ministros e líderes governistas.
A seguir, os principais trechos de sua entrevista:

Folha - A Força Sindical acabou ficando à margem da negociação da Previdência?
Luiz Antônio de Medeiros - Acabamos. Isso aconteceu porque interessava mais ao governo um acordo com a CUT do que uma reforma da Previdência.
Folha - Por quê?
Medeiros - Porque a CUT faria um 'arrombo' em cima das oposições e o governo passou a alimentar isso.
Folha - Por que a Força Sindical não forçou para uma reforma mais ampla?
Medeiros - No final, o governo parece que não estava mais querendo uma reforma. E nós não tínhamos espaço.
Se saíssemos atirando, seríamos acusados de estar com inveja, atrapalhando.
Folha - O governo errou na negociação?
Medeiros - O governo não tinha parâmetro do que ceder. Os interlocutores do governo estavam completamente despreparados para negociar.
Toda e qualquer negociação era feita em nome da manutenção da CUT no acordo.
Folha - O sr. está se referindo a quais negociadores?
Medeiros - O Euler Ribeiro não tinha uma proposta para fazer uma reforma na Previdência.
O Vicentinho blefou várias vezes ontem (anteontem) na frente do governo. Ele dizia que ia sair da sala.
Folha - Ninguém do governo se salvou na negociação?
Medeiros - Eu excluo o presidente da República. Mas evidentemente que o governo errou. O principal não foi feito.
A maioria dos trabalhadores, da iniciativa privada, vai continuar a se aposentar pela média da contribuição dos seus últimos 36 meses de trabalho, enquanto que os funcionários públicos poderão manter a aposentadoria com o último salário integral.
Folha - O sr. citou Euler Ribeiro. Quem mais foi inábil na negociações?
Medeiros - Na reunião de ontem (anteontem) estava o Michel Temer (líder do PMDB na Câmara), o Luiz Carlos Santos (PSDB-SP, líder do governo na Câmara), o ministro Paulo Paiva (Trabalho) e outros deputados. A CUT deu uma lavada neles. Eles não sabem negociar.

Texto Anterior: Relator, ministro e CUT emperram as negociações
Próximo Texto: TODOS OS HOMENS DA PREVIDÊNCIA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.