São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996
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Cinema brasileiro ganha CD-ROM

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O cinema brasileiro vai ganhar seu primeiro CD-ROM histórico como presente de celebração do centenário nacional de projeções de filmes (8 de julho). O projeto é uma realização conjunta da Cinemateca Brasileira e da Secretaria para Desenvolvimento do Audiovisual do Ministério da Cultura.
A Folha teve acesso exclusivo ao protótipo no final da última semana. O lançamento está previsto para fins de maio próximo.
"Em Memória" abre o que se pretende uma série, para cuja sequência a Secretaria já reservou neste ano R$ 300 mil. O CD-ROM inaugural dá uma visão panorâmica das várias épocas do cinema brasileiro por meio das biofilmografias de 19 dos principais diretores.
O primeiro critério para selecioná-los foi terem a carreira já encerrada pela morte, esclarece a coordenadora-geral do projeto, Tânia Savietto, diretora-executiva da Cinemateca.
A lista é aberta pelos pioneiros Afonso Segreto, Cunha Sales e Vítor de Maio. Seguem-se autores de destaque da era muda, como Francisco Santos, José Medina e Mário Peixoto.
O sensualíssimo Humberto Mauro e o prolífico e multifacetado Luiz de Barros fazem a ponte entre o silencioso e o falado, enquanto Adhemar Gonzaga e Watson Macedo representam respectivamente os primeiros passos e o momento máximo do filmusical brasileiro.
O eterno estrangeiro Alberto Cavalcanti cruza o país como um cometa à frente da Vera Cruz, que alcança seu apogeu com Lima Barreto.
O contraponto é feito por Roberto Santos e Luiz Sérgio Person, que revigoram a produção independente paulista.
Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman formam a turma do Cinema Novo. O chamado "novo cinema paulista" dos anos 80 é lembrado por dois de seus mais talentosos cineastas, Chico Botelho e Wilson Barros.
Savietto se antecipa à cobrança das omissões. "Aqueles que não estão aqui estarão nos próximos", afirma. "Há um limite de memória, o que exigiu um critério rigoroso."
Os fãs de Alex Viany, Amácio Mazzaropi, Eduardo Abelim, Gilda de Abreu, José Carlos Burle, Silvino Santos e Vittorio Capellaro, assim, que esperem -e cobrem.
O protótipo exibido à Folha apresentava completos apenas os verbetes dedicados a Humberto Mauro e Glauber Rocha. "O projeto de navegação procurou torná-la muito simples e transparente, realçando o material", explica Abel Packer, responsável pelo desenvolvimento do programa e da interface gráfica.
O percurso não poderia mesmo ser mais fácil. Uma seleção de fotogramas de filmes dos diretores escolhidos abre o CD-ROM. Um clique apresenta o menu de imediata compreensão: diretores, textos, multimídia, créditos.
Cada entrada para diretor se ramifica por meio dos tópicos biografia, textos, filmografia, iconografia e bibliografia.
Pode-se acionar um trecho de meio minuto da "cena mais clássica do filme mais clássico de cada diretor", nas palavras de Savietto.
Vê-se assim o barco à deriva em "Limite", o adeus à bicicleta de Guarnieri em "O Grande Momento", Shirley Sombra jogando fliperama em "Cidade Oculta" (veja quadro ao lado).
Fotogramas de outros filmes importantes também podem ser conhecidos. Diálogos e trechos das trilhas também podem ser acessados, totalizando 80 minutos de informações sonoras.
Mais de mil páginas de textos formam uma autêntica enciclopédia. "Em Memória" mescla a facilidade de "Cinemania" com uma face banco de dados mais encorpada até que o obrigatório "Tutto Fellini".
A seleção das imagens foi coordenada por José Carvalho Motta, pesquisador da Cinemateca. O trabalho de pesquisa e redação de textos está sendo liderado por Carlos Roberto de Souza e Maria Rita Galvão. A produção do material está a cargo de Malu Oliveira.
O orçamento de "Em Memória" gira em torno de R$ 300 mil, alicerçados nos R$ 50 mil bancados pelo MinC. As mil cópias iniciais do CD-ROM não serão colocadas à venda.
"A idéia é mandar para o máximo de universidades, centros de estudos, centros culturais e bibliotecas, especialmente às instituições relacionadas a cinema", explicou a secretaria federal do audiovisual, Vera Zaverucha. "Vamos enviar ainda para os centros de estudos brasileiros das embaixadas", disse.

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