São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996 |
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"Kids" dá tapa na cara de jovens rebeldes
BARBARA GANCIA
Trata-se de um baixo-astral histórico, único filme que pode concorrer com o sucesso dos anos 70 "Eu, Christiane F., Drogada e Prostituída" no quesito juventude perdida. Em "Christiane F.", porém, a realidade vivida pela adolescente viciada em heroína não diz respeito à maioria dos jovens nascidos nas proximidades da linha do Equador. Afinal, a heroína nunca foi uma droga popular em países de clima quente. "Kids" é diferente. Fala a qualquer garoto que vive em um grande centro urbano. O crack e a Aids colocaram a morte na fuça dos jovens da classe média. Basta ver a quantidade de crimes que andam relacionando adolescentes "educados" ao conhecido "primo pobre da cocaína". Basta ver a quantidade de jovens que é infectada pelo vírus HIV. Em 30 de janeiro, a coluna "Sexo", da psicóloga Rosely Sayão -publicada no caderno Folhateen, desta Folha-, trazia a carta de uma guria "Kids" de 14 anos, que engravidou e achava ter se contaminado ao transar em grupo. A juventude representada em "Kids" é assim. Consome uma variedade de drogas e faz sexo "inseguro" sem arrependimentos. "A vida é curta e a gente vai acabar morrendo mesmo", é a embotada conclusão a que chega um dos personagens. E pensar que ninguém dialogou mais com os filhos do que a sociedade norte-americana "pós-dr. Spock". Quantas vezes não se vêem as seguintes frases em filmes americanos de temática familiar: "Let's talk about it", "Is there something you want to talk about?" (Vamos conversar a respeito. Há algo que você queira me contar?)? O diálogo entre pais e filhos tornou-se arma impotente em uma sociedade como a dos EUA, onde o hedonismo só pode ser obtido via sucesso e dinheiro. Para os "loosers", os perdedores que não se beneficiam do sistema, a única perspectiva de se igualar aos vencedores está na morte. Texto Anterior: Trote faz calouro matar formiga Próximo Texto: Houdini revisitado; Surpresa; Para clubbers Índice |
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