São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996 |
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O melhor de 'Odessa' está na primeira parte
INÁCIO ARAUJO
Não tem nada a ver com isso, o que se percebe com dois ou três minutos de projeção. Mas o distribuidor brasileiro tem alguma razão -de seu ponto de vista- em usar de certa má-fé: quem iria querer ver um filme sobre judeus russos que moram em Little Odessa, no Brooklyn, Nova York? A única coisa que particulariza essa família é ter um filho, Joshua (Tim Roth), pistoleiro de aluguel. O pai (Maximilian Schell) é o honesto dono de uma banca de revistas. A mãe (Vanessa Redgrave) tem um tumor no cérebro. O pai não quer ver Joshua nem em fotografia. Joshua deseja visitar a mãe (embora tenha vindo ao bairro por outras razões). O pai tenta evitar o contato entre Joshua e o irmão menor, o sensível Reuben (Edward Furlong). Na parte expositiva, o filme nos lança em um fascinante -e bem filmado- retrato de pequena burguesia imigrante, com imagens que não se vêem todos os dias (a bem dizer, dia algum) no cinema americano. Nada pasteurizado. No mais, leva-nos a um mundo sombrio, um tanto marcado pela predestinação: a graça é algo que não depende de nossos atos, mas de uma vontade superior. Quem melhor esboçou a pintura desse tipo de sentimento, nos EUA, foi Martin Scorsese, especialmente quando teve Paul Schrader como roteirista (em "Taxi Driver", por exemplo). À medida que se desenvolve, porém, o filme começa a deixar arestas. Como se o roteirista e diretor estreante James Gray devesse ter contado com um assessor (Schrader seria o ideal) para levar sua tragédia a bom termo. Quanto mais o filme anda, menos sabemos, por exemplo, se Gray está preocupado com a criminalidade em Little Odessa ou com os sentimentos entre dois irmãos que se amam acima do abismo que o mundo colocou entre eles. Ou seja, faltou a Gray o sentido de estruturação dramática para que sua "Fuga para Odessa" adquirisse a exatidão necessária às tragédias. Evitaria, com um maior apuro, que a segunda metade do trabalho fosse permeada de coincidências e acasos que enfraquecem um filme dessa natureza. Se começa magnificamente e termina meio sem eira nem beira, ainda assim "Fuga para Odessa" marca a estréia de um diretor com sentido de imagem e nenhum gosto pela vulgaridade ou pelo lugar-comum. Não será demais notar que o elenco principal é muito bom, com exceção de Furlong, que não evolui ao longo da trama. Tim Roth está bem como o matador Joshua. Mas o destaque fica mesmo com os veteranos. Vanessa Redgrave está muito forte como a mãe doente. O show de interpretação fica mesmo por conta de Maximilian Schell. É um desses atores que melhoram com a idade. E sua composição do pai severo e trágico é exemplar.(Inácio Araujo) Filme: Fuga para Odessa Produção: EUA, 1994, 95 min. Direção: James Gray Elenco: Tim Roth, Edward Furlong, Vanessa Redgrave, Maximilian Schell Onde: a partir de hoje nos cines Ibirapuera 1, Morumbi 1, Eldorado 5, Butantã 3 e circuito Texto Anterior: 'Xangai' recria a China para o Ocidente Próximo Texto: Belo Horizonte terá 16 atrações do exterior Índice |
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