São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Campanha interna prejudica PT, diz Dirceu

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Partido dos Trabalhadores já está em campanha interna para a prefeitura de São Paulo. É a campanha da campanha.
Dois candidatos a candidato, a ex-prefeita Luiza Erundina e o ex-deputado Aloísio Mercadante, começam, a partir deste sábado, às 16h00, na Universidade Cruzeiro do Sul (av. Manuel Feliciano, 200), a maratona de 14 debates abertos à população. Disputam a preferência do filiado, que escolherá o candidato do partido na prévia a ser realizada em março.
Segundo Gilberto Tatto, 30, presidente do Diretório Municipal e organizador dos debates, cada candidato terá 10 minutos para fazer suas considerações, e as perguntas estarão abertas ao público.
Os debates já são uma tradição no longo processo interno de escolha dos candidatos do PT, processo que começa a ser questionado pelos próprios dirigentes do partido.
"Os debates devem continuar, mas tenho dúvidas se as prévias ajudam ou atrapalham. A disputa interna cria uma dinâmica que prejudica o partido. Pela minha experiência, elas legitimam uma candidatura, mas criam incompatibilidade com alguns setores", disse José Dirceu, presidente do partido, que na última eleição disputou prévia com a ex-prefeita de Santos, Telma de Souza.
"No passado, a idéia das prévias surgiu como uma luva, o filiado se sentiu prestigiado. Mas acabaram surgindo vícios, como corrida para filiações, sectarismo e incompatibilidade pessoal. Ao invés da prévia, poderíamos ter um encontro para escolher o candidato", disse Dirceu.
Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente do PT, concorda que deve-se repensar no processo eleitoral interno: "A maior dificuldade da eleição será o PT não sair para a campanha já desunido e desmotivado."
O que está em discussão no PT é o risco da disputa interna dividir o partido. O senador Eduardo Suplicy, considerado o pai das prévias, acha que o processo é educativo, e lembra que outros partidos também cogitaram de fazer o mesmo, apesar de sempre desistirem.
"As prévias são altamente democráticas. O partido e suas bases que devem se comportar de maneira respeitosa. Os efeitos positivos são maiores que os negativos se aprendermos a aceitar os resultados. Participei de debates em 85 e 88, envolveu torcida e o nível sempre foi alto", afirma Suplicy.
O deputado Delfim Neto (PPB) que já presidiu o antigo PDS, diz que este processo "irrelevante" é uma característica do PT, e que as candidaturas nascem naturalmente nos partidos "mais organizados".
"É um mecanismo assembleista (sic.). É a maneira de paralisar tudo. Fica elegante chamar de democracia, é a forma de ser do PT. Mas é uma espécie de impotência, nunca completa", ironiza Delfim.
Para Aloísio Mercadante, candidato que provavelmente disputará a próxima prévia, a candidatura do PT é construída junto das bases, e o processo é um investimento que coloca o partido em movimento antes dos outros, e deve ser aprimorado.
"Os dirigentes do PPB e do PSDB entram numa Kombi e escolhem um candidato. Algumas prévias deixaram feridas. A força do PT não está na mídia nem no dinheiro, mas na militância", defende Mercadante.
José Dirceu confessa que "se os ânimos da militância forem acirrados, é difícil trazer o militante para o outro candidato". "Precisamos deixar claro que o inimigo é o candidato da outra legenda", disse.
Para Celso Pitta, Secretário Municipal das Finanças, candidato em potencial do PPB à sucessão de Maluf, "o processo de escolha do PT é de esfacelamento do partido, partido que não faz nada além de debater e consultar, deixando as administrações paradas". Segundo Pitta, não é um processo democrático mas "indecisório".
Luiza Erundina, que já disputou, em 88, uma prévia com o ex-deputado Plínio de arruda sampaio, concorda que o processo pode dividir o partido.
"Desde 88, as minhas dificuldades com o PT foram em partes em função de sequelas na disputa na prévia. Apesar de todo mundo dizer, vou fazer campanha para quem ganhar, não é bem verdade. Quem perde desanima. A militância se divide e damos elementos para os reais adversários", disse Erundina.Erundina já está em campanha, agendando encontros com as bases e se preparando para os debates. "A mídia vai explorar nossas divergências. Toda vez que o Mercadante provocar eu vou reagir. O único mérito do processo é trazer a militância de volta para o partido."
Sobre as diferenças entre os dois candidatos, Erundina pergunta: "Qual é o argumento dos adversários do PT contra a minha candidatura? É que o meu índice de rejeição é alto. Mas eu sou mais popular. O Aloísio tem um perfil mais de classe média. O PT deveria escolher um candidato o mais diferente possível do apresentado pelo Centro."
"O Aloísio não tem a minha experiência. Ele é muito competente na elaboração teórica. Mas eu tenho o teste real. Muitas das coisas que ele diz que vai fazer, com as sub-prefeituras, nós já tentamos e vimos o que era possível ou não", revelou.
Mercadante se defende lembrando que de fato tentaram implantar as sub-prefeituras, mas no último ano de governo e sem mobilizarem a sociedade.
"De lá para cá vivemos mudanças profundas, a cidade está se desindustrializando (sic.) e precisa reencontrar seu papel numa economia globalizada", diz Mercadante.

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