São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Jackson vai dançar com Olodum

FERNANDA SCALZO
ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

O cantor Michael Jackson chegou ontem a Salvador, onde vai gravar cenas para o clipe da música "They Don't Care About Us" com o bloco afro Olodum.
O diretor do clipe, o cineasta americano Spike Lee, afirmou ontem em entrevista coletiva na Casa de Cultura do Olodum, no centro histórico do Pelourinho, que não veio ao Brasil falar sobre política.
Ainda assim, vestido com a camiseta da seleção brasileira, o cineasta deu uma alfinetada no ministro dos Esportes, Pelé: "Ele é o jogador de futebol mais famoso do mundo, mas acho que não é o político mais famoso do mundo". Spike Lee se referia ao que chamou de "comentário infeliz" de Pelé sobre a possibilidade de o clipe de Michael Jackson prejudicar a candidatura do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos.
Com um boné do Olodum na cabeça, o cineasta se declarou fã do grupo de percussão baiano e disse que finalmente conseguiu realizar um trabalho com eles, "depois de várias tentativas".
Sobre o clipe da música "They Don't Care About Us", de Michael Jackson, incluída no CD "HIStory", ele disse que a maioria das cenas serão filmadas dentro de uma prisão. "Uma prisão qualquer, já que não haverá cena externa dela. Não importa onde no mundo seja essa prisão."
Em Salvador, Jackson vai dançar à frente dos percussionistas do Olodum, no largo do Pelourinho. Os cerca de 200 percussionistas contratados para tocar serão vistos e Spike Lee diz que espera que sejam também ouvidos no clipe.
Lee contou que nunca havia trabalhado antes com Michael Jackson. Sob encomenda do cantor, escreveu o roteiro do clipe e incluiu o Brasil porque viu aí a oportunidade para trabalhar com Olodum.
"Ele topou porque adora os brasileiros", disse Spike. O cineasta disse que Michael conhece alguma coisa da música brasileira. "Ele sabe que o ritmo da música brasileira vem da África."
Referindo-se a Michael como "o chefe", o cineasta não quis responder perguntas sobre a vida do popstar. "Temos uma relação muito profissional. Ele me contactou em setembro para fazer o clipe e me contratou."
Lee riu e disse que não sabia por que Michael Jackson desembarcou de máscara no Brasil, mas garantiu que ele não a usará hoje, nas filmagens do clipe, que começam às 6h e devem se estender enquanto houver luz natural.
"Quem falou que uma pessoa rica não pode se preocupar com os pobres? Ele é muito humanitário, gasta milhões de dólares por ano com as crianças do mundo todo", disse o cineasta sobre as críticas de que Jackson estaria fazendo dinheiro com a miséria brasileira.
"O mundo não vai descobrir as condições do Rio por causa de Michael Jackson. Isso nunca foi segredo", afirmou, forçado um pouco a falar sobre a polêmica armada com a gravação, prevista para amanhã, de cenas do clipe na favela do morro Dona Marta, no Rio.
Sobre esse episódio, Lee fez questão de dizer que nunca afirmou que o Brasil é uma "república das bananas". "O que eu fiz foi uma pergunta: Esta é uma república das bananas? Uma pergunta é muito diferente".

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