São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Crédito para carro pode encarecer

ANTONIO CARLOS SEIDL; ARTHUR PEREIRA FILHO; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ivan Fonseca e Silva, presidente da Ford do Brasil, disse ontem que os financiamentos para a venda de carros novos "provavelmente vão ficar mais caros" por causa das medidas adotadas para restringir a entrada de dólares.
O encarecimento resulta da decisão do Banco Central de proibir a aplicação em títulos públicos dos recursos captados pelos bancos no exterior para repasse no país.
Até agora, o sistema bancário podia fazer essas aplicações enquanto concluía operações de financiamentos no país com os recursos obtidos a juros mais baixos no exterior.
Era uma prática comum. O banco ganhava a diferença entre os juros praticados no exterior e no Brasil enquanto o dinheiro não era emprestado internamente.
Os bancos fazem outra avaliação. Para Deiwes Rubira de Assis, do ING Bank, o acesso ao financiamento via resolução 63 será mais restrito a partir de agora, mas as taxas de juros não devem subir.
No curto prazo, diz Assis, a tendência é de queda das taxas. É que os bancos serão obrigados a desovar mais rapidamente o estoque de recursos já contratado.
Montadoras
Fonseca disse que cerca de 65% das vendas da Ford são financiadas e que grande parte dos financiamentos é feita com base em moeda estrangeira, captada pelo sistema bancário por meio da resolução 63. A Ford, disse, tem cerca de US$ 500 milhões de vendas financiadas.
Ele disse que ainda é cedo para precisar em termos numéricos o impacto negativo das medidas nas vendas da empresa.
"Temos que avaliar melhor quais são efetivamente os efeitos que as medidas terão na determinação na taxa de juros e nas condições de financiamento para ver como o consumidor vai se comportar em função delas".
O presidente da Ford disse que o governo poderia restringir a entrada de capital estrangeiro especulativo sem atingir as vendas da indústria automobilística.
Com relação aos preços dos carros, disse que não há clima para aumentos a curto prazo.
"Os preços estão deprimidos, as margens de lucro reduzidas e, em alguns casos, inexistentes, mas há um processo de concorrência extremamente violenta impedindo o aumento de preços", disse.
Segundo ele, a saída para a indústria automobilística é a redução de custos, através do aumento da produtividade, absorção de tecnologia e modernização das instalações em busca dos padrões internacionais de eficiência.
Saída para arrocho
Revendedores de carros estimam que, para financiar a venda no país, tanto de nacionais quanto importados, as montadoras trouxeram cerca de US$ 2 bilhões do exterior no ano passado.
Em 95, o financiamento dos carros em até 24 meses, com juros entre 2,5% e 3,5% ao mês mais variação cambial, fez parte da estratégia de todas as empresas.
Foi a forma encontrada para driblar a política de restrição ao consumo adotada pelo governo, que chegou a limitar em três meses o crédito na compra de carros.
A rede de revendedores Volkswagen anunciou, no final do ano passado, o objetivo da montadora para 96: captar mais US$ 1,5 bilhão. Mas as medidas anunciadas quinta-feira pelo governo podem alterar esses planos.
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (federação dos distribuidores), diz não acreditar em grandes mudanças no curto prazo.

Colaboraram ANTONIO CARLOS SEIDL, ARTHUR PEREIRA FILHO e JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA

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