São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Dublê pode ser 'salvo' por filmes de ação

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um jogador de Las Vegas (EUA), endividado e ameaçado pela máfia norte-americana, planeja um assalto a um banco do Rio, onde está guardado dinheiro de criminosos brasileiros.
Uma ladra de carteiras é expulsa de uma pensão por falta de pagamento e vai assaltar o banco, mas vira refém da quadrilha, que foge desesperadamente da polícia.
Com esse enredo, do filme de ação "Manobras Perigosas", aprovado pela Secretaria de Apoio à Cultura do Ministério da Cultura, a Academia de Dublês Águias de Fogo pretende virar a mesa das pessoas que atuam como dublês.
A idéia é fazer com que a profissão seja reconhecida no Brasil como em outros países -por exemplo EUA-, onde cenas de perigo podem render US$ 500 mil.
No Brasil, quem abraça a profissão pode amargar meses sem ser chamado, além de uma remuneração em torno de R$ 300 a R$ 500 por trabalho, que até seria razoável não fosse tão esporádica a necessidade de dublês no país.
No Brasil, em raríssimos casos é possível receber R$ 2.500 por uma cena de perseguição que termine em um acidente.
Hoje o maior mercado está nas emissoras de TV, mas não só em cenas de acidentes ou ação de novelas. Os departamentos de jornalismo requisitam os serviços de dublês para reconstituições de crimes, por exemplo. Também há espaço em filmes publicitários.
As fortes emoções da profissão não estão na ação, mas principalmente no mercado de trabalho, extremamente irregular.
A profissão não é regulamentada: o dublê precisa ser registrado como acrobata. O número de dublês profissionais no país está avaliado em cerca de 250.
"Quem se interessa pela carreira são os fãs de filmes de ação", diz o dublê, ator e produtor Carlos Roberto Figueiredo, 44, dono da academia Águias de Fogo, única do país que forma profissionais.
Três anos atrás ele ganhou um prêmio após ter sido atropelado por um carro a 80 quilômetros por hora para demonstrar formas incorretas de prestar socorro.
Ele critica a falta de ação no cinema brasileiro. "Se, no Brasil, é preciso fazer cenas de ação, eles só simulam." Ele diz que o caminho para abrir mercado, com o renascimento do cinema, é começar a fazer filmes de ação.
Embora a carreira atraia loucos por ação, a maioria das cenas é para novelas e minisséries em que os atores não sabem, por exemplo, andar de moto ou a cavalo.
"Ser dublê é técnica, não precisa necessariamente ser corajoso", diz Figueiredo, para quem versatilidade é o fundamental. Ele tem um curso para os interessados.
Entre o que é ensinado, estão: atropelamento, pulo de prédio, coreografia de luta, pára-quedismo, guerrilha na selva, resgate em altura e até manobras com carro.
"É maravilhoso arrebentar um carro que não é seu", diz Fabio Giangiacomo, dublê profissional, que admite já ter se machucado treinando. "É coisa leve, um gesso aqui, outro ali. Mas nunca na filmagem. Só em treinamento."
Há ainda dublês de corpo, que entram em ação quando é preciso mostrar, geralmente na TV, partes do corpo que nem sempre são perfeitas no ator original.

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