São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Poy deu seu último salto, para a memória

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Um veste ainda a faixa de campeão paulista; o outro é o vice-campeão brasileiro. Ambos, antes do início do campeonato, poderiam ser apontados como favoritos, pois, se o Santos tem o melhor jogador em atividade no país -Giovanni-, o Corinthians acabara de incorporar a seu ilustre elenco o polêmico Edmundo.
Acontece que Corinthians e Santos, que se pegam esta tarde na Vila, foram exatamente aqueles que não se prepararam adequadamente para o certame. O Santos, porque enquanto todos descansavam, quebrava pedra diante do Botafogo, no Brasileiro. O Corinthians, sei lá por que cargas d'água, preferiu exaurir-se ao sol de Caraguatatuba, ao invés de subir o morro como reza a cartilha do bom senso.
Por fim, tanto Santos quanto Corinthians carecem de um homem de área, que não precisa ser aquele estático centroavante com apetite de hiena, que fica na boca do gol esperando as sobras do trabalho alheio para saciar-se de gols, mas alguém mais afeito à sutil arte de empurrar a bola para as redes e resistente aos embates com os becões adversários. Resultado: os dois atravessaram as primeiras rodadas sob crescentes suspeitas. O Corinthians safou-se porque não teve ainda nenhum grande pelo caminho e graças aos disparos mágicos de Marcelinho. Já o Santos, que pegou pela proa dois clássicos em seguida, naufragou. Esta tarde, tenta voltar à tona, mas com que fôlego, se não pode contar com mais de meio time titular? Eis, pois, a grande chance de o Corinthians firmar-se diante do velho e alquebrado rival.
Prevejo um jogo de alta tensão e pouco futebol.

Houve quem se espantasse com o 0 a 0 do implacável Palmeiras diante do União. Confesso que já desconfiava de algo parecido. Afinal, os pequenos caíram na real e, doravante, quando enfrentarem os grandes, vão-se retrancar com a desfaçatez do União: 11 atrás e Deus na frente. Mesmo assim, o Palmeiras teve chances. Fizesse o primeiro, seria goleada.
Não me surpreenderia, pois, se tivermos hoje um replay, diante do Juventus.

E José Poy deu aquele último salto, saindo de nossas vidas para ficar na memória eterna do futebol. Quem não chegou a vê-lo defendendo o gol tricolor por quase duas décadas pode achar que é exagero dizer-se que foi um dos maiores arqueiros que o futebol já produziu.
Ágil, elástico e dono de uma coragem singular, foi, durante toda a década de 50 e início da de 60, quando da construção do Morumbi e da desconstrução do timaço de 40, a salvação do São Paulo. Numa época em que os maiores goleiros brasileiros, como Barbosa, Castilho e Gilmar, hesitavam nas saídas de gol, o argentino Poy alçava-se acima de todos, desferindo socos memoráveis na bola que ia pingar lá no meio-campo. E, lá de trás, comandava o time com seus gritos, naquele espanhoguês com que costumava dizer que todo goleiro ou é bicha ou é louco, para arrematar rapidamente: "Yo soy loco!".

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