São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Quem é quem no mercado de locação

SÉRGIO LUIZ ABRANTES LEMBI

O Secovi-SP encomendou à Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP) uma pesquisa inédita para radiografar o mercado de locação residencial. Essa radiografia revelou aspectos dos mais relevantes, suficientes para uma mudança de mentalidade sobre o funcionamento deste setor, a partir do conhecimento sobre quem é quem no mercado, ou seja, o que pensam e desejam inquilinos e proprietários.
Alguns mitos foram simplesmente derrubados, entre eles a idéia equivocada de que todo o proprietário é rico. Quase 50% deles têm renda inferior a 15 salários mínimos e o aluguel recebido equivale a 40% do orçamento familiar. Percebe-se que o não-funcionamento desse segmento não é ruim apenas para quem precisa morar, mas também para aquele que dele depende para sobreviver.
Outro mito é a noção errada de que as partes se odeiam. A pesquisa mostra que a maioria -86% dos inquilinos e 75% dos proprietários- não tem qualquer tipo de queixa. O entendimento prevalece e a confiança também, caso contrário não existiriam mais de 20% de contratos "de palavra".
Há, ainda, informações interessantes sobre o grau de satisfação de locadores e locatários, bem como o tipo de imóvel desejado pelos inquilinos. A preferência destes por casas (83% dos entrevistados) revela interessante nicho de mercado, embora seja conhecida a dificuldade de áreas centrais disponíveis para o desenvolvimento desse tipo de empreendimento. No item segurança, o apartamento se destaca, com 98%.
A fidelidade ao bairro é outro aspecto interessante. Para 62% dos pesquisados -um universo de 543 inquilinos e 121 proprietários entrevistados-, a localização do imóvel detém o maior peso na tomada de decisão (62%), sendo que o valor do aluguel vem em segundo lugar (59%). Para procurar esse imóvel, mais de 70% dos inquilinos têm como principal fonte amigos e parentes, e cerca de 30% dirigem-se a administradora ou imobiliárias. E mais: os proprietários, em sua maioria, possuem seus imóveis no mesmo bairro em que residem.
No tocante à oferta de unidades para alugar, a maior parte delas foi construída pelos proprietários, e isso há muitos anos. Na última década, os investimentos no mercado de locação foram feitos em imóveis comerciais. Mas há uma boa notícia: da atual carteira de imóveis locados, aproximadamente 98% estão alugados e a maior parte dos proprietários (78%) pretende continuar alugando nos próximos três anos.
Essa intenção dos proprietários denota que, com a estabilização da economia, aluguel voltou a ser um bom negócio. Entretanto, o trauma com as ingerências governamentais na área residencial ainda não foi superado. Na montagem de um tipo de "ranking" de melhores oportunidades de investimentos, os proprietários indicam o imóvel comercial como primeira opção (70%). Unidades para locação residencial aparecem como quarta opção (40%), o que não é de todo mal, visto que esta possibilidade vem à frente das aplicações na ciranda financeira (5º lugar). Um sinal claro de que o mercado caminha para sua recuperação.
Depreende-se que o aluguel residencial tem chances concretas de voltar a uma posição de equilíbrio e normalidade. Basta que não surjam novas interferências governamentais nas relações entre inquilinos e proprietários e que a economia seja, real e definitivamente, estabilizada. Com isso, a oferta de moradias continuará a crescer, e com valores absolutamente ajustados ao mercado.

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