São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Escândalos poupam Elizabeth, diz autora

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

Sarah Bradford, que possui título de viscondessa e é autora de uma aclamada biografia do rei George 6º, pai da rainha Elizabeth 2ª, provocou furor no Reino Unido com a publicação de seu livro "Elizabeth, a Biografia de Sua Majestade, a Rainha".
Em entrevista à Folha, a biógrafa Sarah Bradford falou sobre sua biografia e respondeu perguntas sobre a família real britânica. Leia a seguir os principais trechos:
(OD)

Folha - Seu livro causou furor devido às afirmações de que o príncipe Philip teria sido infiel à rainha no início do casamento. Esses são "rumores reciclados", como afirma o Palácio de Buckingham?
Bradford - O caso com a atriz de musical Pat Kirkwood é verdadeiro e, se pretendia fazer uma biografia honesta, não poderia esconder isso embaixo do tapete.
Achei importante colocar o casamento em seu contexto. Esses "affairs" do príncipe não abalaram o casamento. Acho que o príncipe nunca se apaixonou por outra mulher. Foi algo natural para um homem durante 50 anos de um casamento bem-sucedido.
Folha - Que contatos a sra. teve no círculo próximo à família real para ter as informações?
Bradford - Há alguns anos escrevi a biografia do rei George 6º, pai da rainha Elizabeth, e entrevistei muita gente. O livro foi muito bem recebido e essas pessoas passaram a me respeitar. Não posso entretanto revelar seus nomes porque eles confiaram em mim.
Folha - A rainha autorizou suas fontes a falar sobre a vida dela?
Bradford - Acho que algumas pessoas consultaram o secretário particular da rainha e a resposta foi "A decisão é sua, mas não temos objeção".
Folha - Os escândalos envolvendo os filhos da rainha Elizabeth mostram que a família real está em decadência?
Bradford - A longo prazo, não. Mas houve um efeito negativo porque a família real sempre tentou transmitir a imagem da família perfeita. Esse tipo de escândalo, entretanto, não é algo novo. O rei Eduardo 7º, por exemplo, teve diversas amantes. Só que a imprensa não sabia. Ou não falava sobre.
O fracasso do casamento de Charles e Diana foi o catalisador para que esses escândalos passassem a ocupar as primeiras páginas.
Folha - Na sua opinião, a monarquia continuará uma instituição respeitada?
Bradford - A imagem foi muito comprometida, mas a rainha não foi atingida. Acho que é uma questão de tempo. Quando Elizabeth estiver com 80 anos e o príncipe Charles com 60 -e a princesa Diana, se Deus quiser, tiver construído uma nova vida-, as coisas devem se acalmar.
Folha - A família real é uma família feliz?
Bradford - Bem, eles não são como as outras pessoas, não se comunicam muito. Não podem ligar para um conhecido e dizer "venha jantar comigo". Acho que a rainha e o príncipe Philip são um casal feliz. Mas os membros da família não são muito carinhosos entre si. Eles conversam, fazem brincadeiras, mas não há uma relação de proximidade. Isso pode ser parte do problema.
Folha - A sra. descobriu na personalidade da rainha ou no relacionamento da família algo que explique, ao menos em parte, o fracasso dos casamentos de três de seus filhos?
Bradford - Isso tem mais a ver com a circunstância em que eles se encontram. Eles acabam confinados a um pequeno círculo de pessoas, casam-se com alguém que está por perto. Charles, por exemplo, cometeu o grande erro de sua vida ao não se casar com Camilla Parker-Bowles. Camilla já havia encontrado Andrew Parker-Bowles, um homem muito mais sofisticado que o príncipe, um verdadeiro cavalheiro. E Charles nunca deixou claro para ela que o relacionamento entre os dois era sério. Quando ele foi para a Marinha, ela se casou com Parker-Bowles.
Folha - Ela teria sido aceita como mulher de Charles?
Bradford - Pelo público, acho que sim. Por parte da família real, havia certa resistência. Camilla era muito bem-nascida, mas teve uma juventude cheia de casos amorosos. E a família real era muito conservadora, a mulher ideal deveria ser virgem, sem nenhum passado.
Folha - A sra. diz que o príncipe Charles foi "estragado" pelos funcionários do Palácio e "mimado" por seus pais...
Bradford - Eles consideraram seu dever educar o herdeiro com firmeza, porque ele parecia muito sensível e vulnerável quando criança. O príncipe Philip não tinha muita paciência com o filho, que era um menino tímido e inseguro, pouco atlético. Ele não é o pai certo para esse tipo de criança.
Folha - Como é a relação entre a rainha e a princesa Diana?
Bradford - Diana torna as coisas difíceis porque toma iniciativas sem consultar a rainha. Ela nunca criticou Elizabeth pessoalmente, mas considera o Palácio inimigo. A rainha sabe que precisa manter um bom diálogo com Diana para torná-la menos imprevisível.
Folha - A sra. acha que Diana está certa ao tentar definir para si própria um novo papel?
Bradford - Não acho que ela esteja decidida a se tornar independente. Ela já poderia ter colocado um ponto final no casamento, mas continua dependurada nesse conto-de-fadas. Essa história de ser embaixadora itinerante ou de ser a "rainha do coração" do povo não vai funcionar. Ela não vai ser feliz desse jeito.
Folha - Diana disse que Charles não tem a personalidade adequada para o trono. É verdade?
Bradford - A opinião dela é irrelevante. Ele vai ser rei e pronto. O príncipe cometeu erros terríveis, mas tem qualidades. Tem umas idéias um tanto quanto estranhas, mas outras muito sensatas. E tem um desejo de trabalhar pelo país.
Folha - A rainha abdicará ao trono para dar lugar ao filho?
Bradford - Ela nunca vai abdicar. Em toda a história da monarquia britânica, só houve um caso de abdicação voluntária, quando Eduardo 8º, irmão mais velho de George 6º, pai de Elizabeth, decidiu se casar com Mrs. Simpson, uma divorciada americana. Mesmo que enlouquecesse, Elizabeth continuaria rainha.
Folha - Há essa possibilidade?
Bradford - (risos) Não, acho que não. Ela já provou que não vai enlouquecer.

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