São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Fotógrafo Pierre Verger morre aos 93 na Bahia

DA AGÊNCIA FOLHA; DA REDAÇÃO

O etnólogo e fotógrafo francês Pierre Fatumbi Verger morreu ontem de manhã, em Salvador (BA), de edema agudo no pulmão e insuficiência cardíaca, aos 93 anos de idade.
Pierre Verger foi enterrado no final da tarde no cemitério da Ordem Terceira, um dos mais humildes da capital baiana.
Compareceram ao enterro dezenas de pessoas ligadas ao candomblé, além de políticos, artistas e intelectuais baianos, entre eles o cantor Gilberto Gil, o artista plástico Carybé e o fotógrafo Mário Cravo Neto.
Segundo pessoas que conviviam com o etnólogo, Pierre Verger estava preparando duas exposições fotográficas para serem apresentadas em Nova York (EUA).
O etnólogo também pretendia editar um livro ainda no primeiro semestre deste ano.
Na década de 30, Verger abandonou a França para fugir do que chamava de "dignidade burguesa" de seus compatriotas.
Percorreu a África, Ásia e Estados Unidos fotografando para o jornal "France Soir".
Desembarcou pela primeira vez na Bahia em 1946, para dar continuidade ao estudo das correntes de tráfico escravo originárias da África ocidental.
Além de aprofundar-se no estudo da cultura negra, Verger registrou a elegância da negritude baiana na primeira metade deste século. A fundação que leva seu nome, localizada no Pelourinho, centro de Salvador, expõe suas fotografias mais expressivas.
Segundo Verger, a influência do candomblé é a origem da boa índole baiana. "As religiões africanas não são sujas. Não há inferno. Os deuses vêm dançar e conversar com seus fiéis", disse certa vez.
Verger passou 17 anos vivendo entre a Nigéria, Benin e Togo. Na África, o etnólogo francês aprendeu a língua iorubá e coletou parte da sua coleção de 2.800 livros, 3.500 espécies de plantas e mil horas de gravações sobre a cultura iorubá.
Os 40 anos de pesquisa sobre a magia e medicina das nações negras do golfo de Benin renderam uma coleção de 2.000 receitas medicinais e de magia. O livro "Ewé - O Uso das Plantas na Nação Iorubá", lançado no final do ano passado, apresenta 447 delas.
Nos anos 50, Verger foi sagrado babalaô ou sacerdote Ifã, deus iorubá da adivinhação. Acabou adotando o nome Fatumbi, que significa aquele que renasce da graça de Ifã.
Doutorou-se em etnologia pela universidade de Sorbonne, em 1966, sem nunca ter frequentado suas aulas. Não acreditava na educação formal, mas na pesquisa de campo.
O escritor Jorge Amado considerava o etnólogo e professor da Universidade Federal da Bahia "o mais baiano dos baianos".
O cantor e compositor Gilberto Gil afirmou que tinha se encontrado com Verger há dois dias. "Ele estava muito debilitado, mas satisfeito com o seu processo de recuperação", disse.
Nos últimos anos Verger passava a maior parte do tempo em sua casa, lendo livros e jornais franceses e revisando seus livros.
Verger escreveu 18 obras. Entre as mais importantes estão , "Lendas Africanas dos Orixás", com Carybé, e "Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos Entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos nos Séculos 17 a 19".

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