São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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ÔIA O MUNDO LIVRE AÍ, GENTE

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O grupo recifense Mundo Livre S.A. está em estúdio inventando "o novo samba" -nas palavras de seu vocalista, guitarrista, letrista e compositor, Fred Zero-Quatro. "Tudo o que a gente faz acaba em samba", ele diz.
O primeiro disco da banda, "Samba Esquema Noise", foi unanimidade da crítica em 1994. Se o título era exótico, o que dizer do novo, que está sendo chamado de "Ganhando a Ôia".
"Ôia", segundo Fred, é o feminino de "ôio". "Pode ter vários significados, dependendo da favela em que você for", ele diz.
Na favela em que ele vai, "ganhando a ôia" quer dizer "ganhando o dia".
O disco vai ser lançado em abril pela gravadora Excelente Discos.
A Folha falou com Fred durante a segunda semana de gravação, no estúdio Be Bop, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).
*
Folha - "Ganhando a Ôia" vai ser lançado muito próximo do novo álbum do Chico Science. Você não teme comparações?
Fred Zero-Quatro - Da outra vez os discos saíram quase juntos, também. Mas a gente não está competindo. Eu acabei de gravar uma participação no disco dele e estamos tentando coordenar nossos horários, aqui no estúdio, para o Chico vir gravar com a gente.
Folha - Vocês ainda chamam o que fazem de mangue beat?
Fred - É como ser punk. Você não precisa ficar falando toda a hora que é punk. Há muito tempo não uso alfinete na cara, mas é uma coisa que está no sangue. É assim com o mangue: faz parte da carreira da gente.
Folha - Apesar de considerado um dos melhores discos de 1994, a estréia do Mundo Livre S.A. não vendeu muito. O que emperrou com o público?
Fred - Essa dicotomia entre público e crítica acontece por causa das rádios. Ficou muito difícil tocar em rádio hoje em dia, por causa do surgimento das redes nacionais, que têm a programação centralizada no Rio e em São Paulo.
Além disso, somos um grupo nordestino que faz um tipo de música que pode ser chamado de pop. Mas, apesar de não fazer música regional, usamos ritmos nordestinos nas nossas composições. Então, as rádios não sabem o que fazer com a gente.
Folha - Como surgiu a idéia de tocar rock com cavaquinho?
Fred - Tudo vem da África -o blues, o rock, o baião e o maracatu. Por isso deu certo combinar uma levada de cavaquinho com um clichê de rock. Tudo acabou em samba, embora não soe como um samba tradicional. É um novo tipo de samba.
Folha - Um novo samba?
Fred - Embora exista uma obsessão em achar um nome diferente para o pop dos anos 90, para mim é tudo samba. A maneira de tocar um cavaquinho é tão percussiva quanto a levada de uma guitarra funk. É a mesma, por isso tudo acaba em samba.

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