São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Radford aguarda indicação ao Oscar

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O diretor inglês Michael Radford é um dos mais fortes candidatos ao Oscar deste ano, cujos indicados serão revelados amanhã pela Academia de Hollywood.
Ele tem quatro filmes em seu currículo: "Another Time, Another Place", "Incontrolável Paixão", "1984" e "O Carteiro e o Poeta". O primeiro ganhou o prêmio do júri na Mostra de São Paulo em 1983. O último ganhou o prêmio do público na edição do ano passado. É um fenômeno de crítica e público e desponta favorito ao Oscar.
Devido à gigantesca campanha de publicidade da produtora Miramax, rumores em Hollywood apontam "O Carteiro e o Poeta" e Michael Radford como prováveis nomes às indicações ao Oscar nas categorias de melhor filme e diretor. Também o ator italiano Massimo Troisi, morto no início de junho de 1994 aos 41 anos, dias depois de concluída as filmagens, pode ser indicado ao prêmio.
"O Carteiro e o Poeta" já rendeu US$ 10,5 milhões nos EUA, US$ 13 milhões na Itália e cerca de US$ 40 milhões no mundo inteiro, dez vezes seu custo de produção: US$ 4 milhões.
Também acumula indicações a prêmios. Michael Radford está indicado para o prêmio de melhor diretor pela Associação Norte-Americana de Diretores; Massimo Troisi concorre -postumamente- ao de melhor ator pela Associação de Atores de Cinema; e o filme, à melhor produção do ano pela Associação de Produtores.
Em entrevista à Folha, por telefone, de Los Angeles, o diretor Radford falou de seu interesse por literatura, de seu próximo filme e das chances de "O Carteiro e o Poeta" no Oscar.
*
Folha - Os seus filmes são baseados em livros. Por que o interesse tão grande em literatura?
Michael Radford - Porque sou um homem instruído. Estou interessado em literatura e em seu poder, assim como todas as pessoas que têm noção desse poder. Ela é muito importante para todos nós. Foram feitos poucos filmes sobre o poder da literatura.
Folha - O sr. não tem interesse em dirigir um argumento seu?
Radford - Meu primeiro filme, "Another Time, Another Place", não é uma adaptação. É uma história escrita pela escocesa Jessie Kesson como um roteiro e que também se tornou livro, mas ele não existia antes do filme. Meu próximo filme será baseado um argumento meu. Mas isso não é um problema. Por exemplo, eu não me lembro de nenhum roteiro original de John Huston.
Folha - Qual a melhor adaptação que o sr. já viu no cinema?
Radford - É uma pergunta difícil... A melhor adaptação é "O Evangelho Segundo São Mateus", de Pier Paolo Pasolini. É uma adaptação da "Bíblia".
Folha - Como o sr. entrou em contato com o livro "O Carteiro e o Poeta"?
Radford - Fui amigo de Massimo Troisi por muito tempo. Queria que ele fizesse um papel no meu primeiro filme, "Another Time, Another Place", já que era sobre três italianos prisioneiros de guerra na Escócia. Ele não queria fazer o papel do napolitano porque não queria ir para a Escócia, fazia muito frio, não sei bem o porquê. Mas quando viu o filme, em 1984, ficou desiludido por não ter participado. Depois ele viu "1984", gostou e queria muito trabalhar comigo. Decidimos então trabalhar juntos. Mas era difícil porque eu não falava italiano e ele não falava nem uma palavra em inglês.
Eu comecei a estudar italiano e, oito anos depois de muitas conversas e encontros, ele me propôs aquele livro, que não era conhecido na Inglaterra. Pablo Neruda é totalmente desconhecido na Inglaterra, mas é adorado na Itália, porque é um comunista em um país de um partido comunista forte...
Folha - Vocês tinham intenção de trabalhar novamente juntos?
Radford - Sim. A experiência havia sido muito feliz, mesmo tendo a tragédia de sua doença no meio. Tínhamos intenção de fazer uns quatro filmes juntos. Eu queria ficar em Roma e fazer filmes italianos com ele. Não tínhamos projetos precisos, mas estávamos procurando. Quando ele ficou doente, paramos de falar no futuro.
Folha - Antes de Skármeta, o sr. já tinha algum interesse pela literatura latino-americana?
Radford - Sim, muito grande. Acho que a literatura latino-americana é a maior neste momento. Sua imaginação não é superada em nenhum lugar. "A Guerra do Fim do Mundo", de Mario Vargas Llosa, é um dos maiores livros do mundo.
Folha - O sr. acredita em alguma indicação ao Oscar?
Radford - A Miramax está fazendo uma grande campanha para que o filme receba indicações. Eu sei que o filme representa uma coisa muito importante para os americanos. Eles estão envergonhados do produto americano no mundo e querem dar uma lição no "business" dizendo: "Este tipo de filme também deve ser feito na América". Acho que existe uma possibilidade.
Folha - Além de promover "O Carteiro e o Poeta", o que o sr. está fazendo agora?
Radford - Trabalho no meu próximo filme, que é um roteiro original que eu escrevi com um escritor tcheco, Jan Fleischer, sobre um alquimista no ano de 1585, às vésperas da guerra entre Espanha e Inglaterra. Se chamará "O Elixir" e devo trabalhar com Ralph Fiennes ou Daniel Day Lewis.
Folha - Richard Burton morreu pouco depois de "1984"; Trevor Howard, logo após "Incontrolável Paixão"; e Massimo Troisi, depois de "O Carteiro e o Poeta". O sr. é mortal para seus atores?
Radford - De fato, quando estava filmando "O Carteiro e o Poeta", meus amigos brincavam comigo e diziam: 'Preste atenção, porque você mata seus atores'. Tenho tido um azar muito grande, mas espero que isso tenha acabado, senão vou terminar sem atores para trabalhar.

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