São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mostra terá a arte dissimulada de Twombly

JOÃO PEDROSA
DA REVISTA DA FOLHA

A próxima Bienal Internacional de São Paulo expõe, em outubro deste ano, o artista Cy Twombly, um dos maiores pintores da segunda metade do século e talvez, hoje, o grande pintor ainda vivo.
Cy Twombly é um norte-americano de 66 anos, que mora em Roma desde 1957. É o predileto dos grandes críticos, colecionadores milionários, curadores e até mesmo colegas de profissão, uma façanha incrível.
A importância de se expor Twombly no Brasil, onde nunca foi mostrado antes, é enorme, já que nada supera a presença do objeto de arte. Mas, nesse caso específico, trata-se de um dos maiores pintores vivos, cuja obra, conhecida por especialistas, foi muito pouco vista por qualquer tipo de público.
Sua pintura pode ser muito facilemente descrita como algo entre a arte infantil e o grafismo. É o trabalho mais perfeito para ser abordado pela frase infame: "Isto até a minha sobrinha faz melhor!"
É essa a essência da obra de Twombly. Sua consequência é perfeitamente dissimulada pela sua capa de informalidade. A tolice ou a inteligência depende de quem vê.
Nos seus grafismos aparentemente infantis, a linha é mais importante do que até mesmo as cores, pois ela representa a dinâmica de certas situações.
Talvez por isso sua palheta seja hoje restrita, usando vermelho, marrom, muito branco e o cinza, símbolo das sombras, do espelho e da ambiguidade.
Cy Twombly tem uma idéia do mundo como um grande clássico. Por isso mora na Itália e abraça toda essa cultura de grandes civilizações. Percebe-se isso na sua necessidade de criar um grande sistema, reproduzido em grandes telas.
Twombly casou-se em 1959 com Tatiana Franchetti, de uma família tradicional de mecenas italianos. O irmão dela, Giorgio Franchetti, foi financiador da galeria La Tartaruga, famosa nos anos 60 por mostrar arte moderna norte-americana na Itália.
Na sua sala na próxima Bienal estarão expostas 40 peças, entre pinturas, desenhos e esculturas, que não foram mostradas durante 20 anos pois eram considerados objetos por demais pessoais.
Seu trabalho tem uma personalidade deliberada, e talvez seja uma metáfora da epifania, ou do acontecimento espontâneo, do ocasional, que só tem compromisso com o seu próprio dinamismo e suas consequências.
Em algum sentido suas pinturas se parecem com grandes paisagens, mas de um mundo que não é desse mundo. Artista criado entre o expressionismo abstrato e a pop art, ele pertence a esses dois mundos e a nenhum deles.
Sua pretensão, e muitos críticos a comprovam, é a glória de ter criado não só uma linguagem, mas também um sistema.
Com fama de aristocrata e recluso, ele mora entre o seu palácio ao norte de Roma, em Bassano in Teverina, perto do famoso jardim de Bomarzo, e sua vila nas encostas de Gaeta, uma cidade portuária entre Roma e Nápoles.
Cy Twombly é considerado um imperador das artes plásticas, o mais europeu dos norte-americanos.
Enfim uma exposição para não se perder, em todos os sentidos, talvez a do maior pintor vivo ou, talvez, a do mais esperto.

Texto Anterior: Joan Collins nega escrever novelas ruins
Próximo Texto: Coleção imperial vai viajar aos EUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.