São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Buracos silenciosos

O mundo das finanças e dos negócios tem uma característica importante: o respeito à lei do silêncio. Entre outras razões porque faz parte da concorrência o imperativo maior de tirar vantagem da surpresa. E, para que haja surpresa, na maioria das vezes os atores econômicos precisam saber atuar nos bastidores, conseguindo agir antes mesmo de que os outros percebam as suas intenções.
Mas há uma grande distância entre a lei do silêncio e o desrespeito às outras leis que procuram assegurar a ordem pública. Quando o segredo de negócio se converte em omissão dolosa, entra-se no terreno do crime. É nesse terreno que se flagraram nada menos que 125 tipos de operações irregulares e ilegais no Banco Econômico, no período de 1987 a 1995, envolvendo um valor total de US$ 470 milhões.
O mais surpreendente, senão revoltante, é que o silêncio sob o qual prosperaram as irregularidades durou anos e anos a fio.
Entretanto, agora que o tamanho do rombo financeiro cultivado pelos administradores do Econômico vai aos poucos ficando mais visível, inquieta ainda mais o fato de que as chamadas autoridades monetárias tenham relevado por tanto tempo o que se passava. Essa posição do BC é talvez mais surpreendente que a surpresa de afinal se constatarem tantas irregularidades. Diante dessas evidências, há motivos de sobra para preocupar-se com outro silêncio que, aos poucos, se prolonga sobre a extinção do Banco Nacional, instituição aliás bem maior que o Econômico.
A opinião pública continua aguardando das autoridades a devida transparência sobre os motivos da quebra e mesmo sobre os detalhes da negociação do Proer que tão rapidamente se estendeu para solucionar o caso.
A conclusão é evidente: a opinião pública não estará tranquila enquanto não houver uma ampla e profunda despolitização do Banco Central do Brasil.

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