São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Legislação 'emperra' a instalação de abatedouros, dizem criadores

VALMIR DENARDIM
DA AGÊNCIA FOLHA

Os produtores de escargot apontam a burocracia como uma das principais causas para o fracasso da criação no país.
Desde 90, as criadoras Angela Biazotto, 31, e Cristiane Raszl, 32, de Sorocaba (SP), buscam a legalização de um abatedouro do molusco. O prédio, com 120 m2, está pronto.
"Já tentamos dar entrada no projeto diversas vezes, mas as exigências da legislação são absurdas e se enquadram no caso de grandes animais. O escargot é um molusco pequeno, que é abatido escaldado, até em uma panela de água quente", diz Cristiane.
O escargot é enquadrado como pescado pela legislação do Ministério da Agricultura, o que é errado, segundo Angela.
"Ele é um molusco terrestre, com características muito diferentes das dos peixes. Por isso, queremos que sejam criadas normas específicas para o escargot", diz.
"No caso do escargot, o volume de carne abatida pode ser guardado em um freezer", afirma ela.
Outro problema apontado pela criadora são as exigências sanitárias. "Para se abater um peixe é necessário um local isolado, por causa do cheiro forte. Mas o escargot não tem cheiro", diz.
"Além disso, quando se abate peixes é necessário um acondicionamento apropriado das vísceras do animal. Mas, no caso do escargot, as vísceras permanecem na carne depois do abate."
Atualmente, as duas sócias produzem, em casa, 250 quilos de carne por mês.
"Se conseguíssemos a legalização do abatedouro, poderíamos produzir até uma tonelada por mês", diz Angela.
O presidente da associação de criadores no Paraná, Ferenc Polena, vive situação semelhante.
Há mais de um ano tenta legalizar um abatedouro que já começou a construir na região de Curitiba.
Para Cícero Joaquim dos Santos Filho, chefe de Inspeção de Pescados e Derivados do Ministério da Agricultura, as exigências do órgão para a abertura de abatedouros não são exageradas.
"Existem normas higiênico-sanitárias que devem ser seguidas e temos técnicos capacitados para dar orientações e fiscalizar. Acho que os interessados não procuraram o setor certo", diz.
Segundo ele, como o escargot é considerado pescado pela legislação, sua industrialização também deve seguir as normas desse setor.

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